“Somos poucos, mas fazemos muito barulho”

Joel Rechtman - Editor Executivo da TJ

Tribuna Judaica: Conte-nos sobre a sua trajetória pessoal e seu ativismo comunitário, até o início do desfio de presidir a Federação do Paraná?
David “Duda” Chaim Bergman: Sou de uma geração que viveu intensamente o pós-Holocausto, a formação do Estado de Israel, a Guerra dos Seis Dias, a Guerra de Iom Kipur (estava em Israel), estudei e morei por seis anos em Israel. Eu me considero “formatado” dentro do espírito e da alma de um israeli. Na minha trajetória, frequentei estudei no colégio Beith Chinuch (Iavne), frequentei o Ichud Habonim, o Wingate Istitute (Israel), Escola lemadrichim (Sochnut) e participei de grupos de dança israelense, como lehakat Carmel (Hebraica de SP) e Lehakat Kineret (Curitiba). Tenho filhos, netos, e mesmo com 60 anos de idade, fiz novos cursos em Israel.

Hoje presido a Comunidade Israelita do Paraná. Em um momento senti que podia e deveria contribuir para os “jovens” de todas as idades. Retribuir os tantos e tantos seminários que essa vivência me proporcionou.

TJ: Quais são os principais desafios da Kehilá?
Duda: Estamos passando por momentos desafiadores, de grande assimilação, e mudanças de interesses nas pessoas. Está sendo um grande desafio e com ótimos parceiros da Kehilá de Curitiba, estamos construindo um legado e com muito foco no que estamos por fazer. É um prazer enorme estar à frente deste projeto.

TJ: Conte um pouco sobre a história da comunidade paranaense?
Duda: A Kehilá no modelo que temos hoje foi criada em 2000, mas a chegada dos primeiros imigrantes judeus ao Paraná ocorreu em 1889. O conceito da Comunidade Israelita do Paraná é reunir quase todas as entidades judaicas sob um “guarda-chuva”, unificar os esforços financeiros e organizacionais em um único grupo. Também temos uma agenda religiosa, social, esportiva e escolar coordenada.

Hoje somos 600 famílias, aproximadamente 2.400 pessoas. Somos poucos, comparativamente a outras Federações do país, mas fazemos barulho. Sou convicto que podemos fazer mais unidos – é a palavra-chave, a exemplo do competente comitê de crise COVID 19, do G-14, da Campanha 18💙18 (cito essas porque foram as últimas), quando nos propusemos a alcançar 1.818 cestas básicas e chegamos como num passe de mágica a 1818 x 5=9.090 para uma população carente.

TJ: O advento do Museu do Holocausto deu bastante visibilidade ao Ishuv. Qual é a influência deste espaço, em tempos de antissemitismo no Brasil?
Duda: O Museu do Holocausto de Curitiba, coordenado pelo professor Carlos Reiss, se transformou numa referência nacional e internacional acerca da memória, da pesquisa e da educação sobre a Shoá. Uma das razões para o sucesso é a visão universal sobre a transmissão desse tema, ou seja, a capacidade de decodificar a tragédia e retirar dela valores que podem ser compartilhados pelo mundo todo. A lembrança da Shoá é uma ferramenta poderosa para transmitir princípios como tolerância, liberdade, democracia, pluralidade e a preservação da vida.

O Museu se preocupa com o combate ao antissemitismo. Damos visibilidade, contestamos, cobramos as autoridades, criamos alternativas educativas e estamos vigilantes diante deste ódio que tanto nos faz mal. Mas a instituição é mais do que isso. Falar sobre Shoá precisa estar conectado ao que vivemos hoje. É falar sobre o racismo, sobre a violência contra a mulher, a LGBTFobia, a intolerância religiosa, o próprio antissemitismo, a inclusão de pessoas com deficiência, o acolhimento a refugiados, a outros genocídios. O Museu busca entender o mundo que a gente vive, dialogar com a sociedade e transformar vidas a partir das lições que o Holocausto nos proporciona.

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