O povo do livro e a Academia Judaica

Mário Fleck – Especial para a TJ

Ser o povo do livro é uma definição que traz importantes implicações para os judeus.
Ser o povo do livro talvez tenha sido a mais importante característica de diferenciação e particularidade desse povo, e certamente foi essencial para a criação de um DNA capaz de sobreviver por milênios, à prova de todas as possibilidades de destruição.

Esse povo foi o pioneiro em tornar a educação e o estudo obrigatórios, ainda nos tempos em que apenas a agricultura e o trabalho manual serviam de elementos para a subsistência humana. Numa época em que outras questões eram prioritárias, como a sobrevivência e a capacidade de desenvolver mecanismos de guerra e proteção de cada tribo, esse povo conseguiu fazer da educação um valor em si.

Nossos antepassados sempre tiveram um compromisso com a transmissão de textos e tradições adquiridos ao longo de muitos séculos e passados de geração em geração como parte de um convênio divino. Esse compromisso é a maior razão pela qual a predominância de judeus em todos os campos dependentes de conhecimento e educação soa desproporcional em relação ao tamanho de seu povo.

Esse processo educacional evoluiu ao longo dos tempos: passou da exclusividade do núcleo familiar para maiores amplitudes, através das instituições de ensino que foram sendo criadas. Graças à prioridade atribuída pelas lideranças comunitárias à educação, tal processo se multiplicou em todos os cantos por onde judeus se espalharam – por vontade própria ou coagidos por forças externas.

Vale destacar que em momentos muito sensíveis e de ameaça de destruição total os judeus não perderam o foco na questão educacional, como nos mostra o caso da conquista de Jerusalém pelos romanos há mais de dois mil anos. Conta a lenda que o rabino Yohanan Ben Zakai se encontrou com o general romano Vespasiano e disse que ele estava destinado a se tornar imperador de Roma. Com essa aproximação, Ben Zakai teria conseguido formular um pedido para que a cidade de Yavne fosse protegida, permitindo assim a continuidade dos estudos da Torá. Teria sido esse um momento de salvação do judaísmo pela via da educação?

Analfabetismo judaico

Trazendo essa história rapidamente para o presente, temos um contexto bastante desafiador para a manutenção da educação judaica como elemento central da vivência do povo judeu.

E um dos principais desafios atuais dentro da nossa comunidade é a questão da instrução ou, digamos, da alfabetização das gerações contemporâneas do povo judeu. Sem negar as vantagens da integração e das liberdades de escolha, constatamos que as maravilhas da contemporaneidade paradoxalmente acabam deixando em segundo plano a atenção ao tesouro do judaísmo.

Para enfrentar esse círculo vicioso e fortalecer os elos de uma corrente milenar, a liderança da CIP (Congregação Israelita Paulista) concluiu que existe nesse cenário uma obrigação e uma oportunidade. Assim nasceu a Academia Judaica.

A Academia Judaica

A ideia da Academia Judaica é oferecer à comunidade e a seus simpatizantes um amplo cardápio de ofertas, seja qual for o grau de conhecimento ou interesse de cada um. A Academia está estruturada sobre três pilares:
1) Sabedoria judaica, a filosofia por trás da religião e da tradição, dedicado a explorar nosso tesouro através de seus textos mais relevantes;
2) Israel e sionismo, dedicado às questões históricas, políticas e culturais que constituem o Estado de Israel e a sociedade israelense;
3) Civilização judaica (Jewish Peoplehood), dedicado a acompanhar todas as etapas de uma história de conquistas, derrotas, desafios, lutas e contribuições de uma civilização milenar.
Sobre esses pilares, a Academia Judaica abre o primeiro ciclo de atividades do ano 2023 com uma seleção exclusiva de cursos no mês de fevereiro:
“Leve adiante o legado de ser “o povo do livro” e participe no desenvolvimento do pensamento judaico.”

“Responsabilidade Humana em tempos de Auschwitz” | A professora Dra. Luciana Zaterka trará a filosofia produzida no século XX por quatro gigantes pensadores judeus – Hannah Arendt, Hans Jonas, Herbert Marcuse e Walter Benjamin – que buscaram responder a barbárie da Shoá por meio da ética, das artes, da política e da ciência e tecnologia.

“Judeufobia –antiga e persistente obsessão” | A cargo do Dr. Gustavo Perednik, o curso em quatro aulas explora as raízes do ódio antijudaico e seu desenvolvimento até a era atual, analisando a imagem do judeu em diferentes períodos através de seus mitos e justificativas, e o fenômeno do auto-ódio judaico. E finalmente, o curso abordará formas de enfrentar o antissemitismo.

“Humor judaico: povo do livro ou povo da piada?” | Este curso sério e divertido ao mesmo tempo, ministrado pelo Dr. Jacques Fux, analisará o desenvolvimento do humor judaico dentro de uma variedade de culturas durante os séculos XIX e XX. Percorreremos de Freud e a psicologia do chiste, passando por Woody Allen e Seinfeld, no cinema, até Philip Roth e Saul Bellow, na literatura humorística.

“Alternativas espirituais para o Shabat – na sinagoga, na comunidade e no lar” | Seguindo a série sobre Tefilá, a rabina israelense Dra. Alona Lisitsa e o rabino Dr. Ruben Sternschein abordarão a estrutura da reza do Cabalat Shabat, a perspectiva haláchica do texto, as respostas dos diferentes sidurim aos principais questionamentos sobre a reza em Israel e na diáspora, e o significado para nossas vidas contemporâneas.

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