Limpeza e purificação em Rosh Hashaná

Rav Sany - Especial para a TJ

Na véspera do Ano-Novo, o sujeito tinha ido ao hospital visitar a sogra que estava em estado grave. Na volta para casa, a esposa, muito preocupada, pergunta:

– E então, querido, como está a mamãe?

– Está ótima! Com uma saúde de ferro! Ainda vai viver por muitos anos. A semana que vem vai receber alta e vai vir morar com a gente para sempre!

– Nossa, que maravilha! – diz a esposa. – Isso é muito estranho, querido. Ontem mesmo ela parecia estar no leito de morte; os médicos diziam que tinha poucos dias de vida; não passaria o Ano-Novo conosco.

– Bem, não sei como ela estava ontem – respondeu ele. – Hoje, quando cheguei ao hospital, o médico já foi logo dizendo que a gente devia se preparar para o pior!

Brincadeiras à parte…

O verdadeiro Ano Novo se aproxima.

Os grandes momentos estão mais próximos que nunca. Os corações de todos os judeus já estremecem de emoção e, em todas as almas judias, já ressonam as vozes mais profundas. Em poucos dias, essa comoção se transformará em fatos tangíveis: os cartões de Shaná Tová serão abertos; os judeus se cumprimentarão amigavelmente para desejar Shaná Tová; as músicas sentimentais serão tocadas em todos os espaços e a maçã será mergulhada no mel, como sinal de um ano doce.

Chegará a manhã de Rosh Hashaná, todos os judeus se apressarão para ir à sinagoga. Sim, este ano com restrições, distanciamento e máscaras, mas, com certeza, com olhos brilhando, sentimentos à flor da pele e uma alegria indescritível. Cada um de nós abrirá o Machzór (livro de rezas desta festividade) e rezará. Logo a voz do chazán será ouvida, enquanto inicia o serviço, momentos antes de todos se juntarem a ele, clamando do fundo do coração e das profundezas da alma, a oração que começa com a palavra “Hamélech!” – “O Rei!”.

Não é apenas um brado. É algo mais profundo, penetrante, que se derrama em um sentimento infinito. Na verdade, o brado sobre “O Rei!” é um momento elevado, em que recebemos o jugo de Seu reinado, quando externamos nossa felicidade em declarar novamente que somos fiéis a Ele. O brado “O Rei!” é um evento emocionante e singular, em que decidimos uma vez mais que D”us é o nosso Rei e, nós, os Seus servos. É um orgulho estar submetido à autoridade de nosso Pai e nosso Rei!

Malchuiót

Não há ninguém que não mereça participar desse evento. Não há quem não tenha a honra e o prazer de se associar a um evento de coroação do Rei. Afinal, quem solicitou que houvesse essa coroação foi o próprio Rei, como consta: “Digam diante de Mim as Malchuiót (trecho da oração que contém versículos os quais abordam o assunto da realeza) para Me coroar sobre vocês”. O Rei nos convida à Sua coroação e Se dirige a cada um de nós para pedir a Sua participação pessoal nesse grande evento em que voltaremos a coroá-Lo como o Rei do universo.

Quando nos preparamos para esse momento, um acontecimento tão elevado como a coroação do Rei dos reis, precisamos nos organizar antecipadamente. Ainda que o filho do Rei (todo ser humano) poderá participar da cerimônia de coroação de seu pai, mesmo se estiver com roupas sujas, dado que se trata do filho do próprio Rei, é claro que isso não será nada agradável. Qualquer um pode entender que o evento de coroação do Rei demanda alguns requisitos de conduta, vestir-se adequadamente, estar tinindo de limpeza, polido e brilhante.

Ao refletir sobre esse acontecimento tão elevado que nos espera, entendemos que estamos no momento certo para nos organizarmos e buscarmos por limpeza, purificação e refinamento. Agora é a hora de vestir as melhores roupas, tirar todas as manchas, limpar as sujeiras e sacudir qualquer resquício de poeira. Para chegar ao evento de coroação do Rei devemos estar preparados, vestidos adequadamente e reluzindo de pureza!

Com esse intuito, nos foi dado de presente os dias de “desculpas”, “perdões”, em que recitamos as Selichót, os dias de preparação ao grande evento da coroação. São nesses momentos e horas que lavamos a nós mesmos e as nossas vestimentas espirituais. Esses dias são propícios para nos organizarmos, levantar a poeira que se acoplou às nossas vestimentas, limpar as sujeiras e as manchas. Esses são dias que nos foram dados em um presente de amor para nos limpar e nos purificar e chegar ao momento da coroação limpos e polidos.

Tudo o que devemos fazer é uma pausa na corrida cotidiana e encontrar alguns minutos diários com o propósito de procurarmos as manchas escondidas em nossos corações, aquilo que se esconde de nossos olhos enquanto nos ocupamos das tarefas do dia a dia.

Vamos procurar os nossos caminhos e investigá-los, descobrir onde podemos melhorar nossas orações, passar a rezar em público junto com o minián, com a devida integridade de uma oração. Vamos analisar a nossa rotina de estudos, até que ponto são estudos fixos, sérios, consistentes e assíduos. Aprofundaremos o olhar sobre nossos atos de bondade, se os praticamos suficientemente e o quanto a bondade ocupa um espaço respeitável em nosso cotidiano. Verificaremos se de fato estamos cuidando de nossos olhos, nossa boca, ouvidos e assim por diante.

Mussar

Uma das melhores formas de fazermos esse balanço interno e pessoal é tomar algum livro de Mussár (Moral e Ética), entre outras obras que despertam o coração, aprofundar a leitura, fortalecer-se com ele e seguir seus ensinamentos. Nesses dias, o estudo em tais livros é muito producente, pois eles nos ajudam a efetuar o rastreamento sobre o que precisa ser melhorado, encontrar os lugares em que precisamos melhorar o nosso comportamento e entender a melhor forma sobre como esse trabalho deve ser realizado na prática.

Nesses dias, devemos fazer uma inspeção geral para saber o que deve ser aperfeiçoado e o que pode ser fortalecido. Vamos encontrar esses lugares e atuaremos para corrigi-los, limparemos nosso coração e a nós mesmos e, assim, chegaremos ao evento da coroação do Rei empolgados, pois a “nossa vontade é ver o nosso Rei!”. Nestes dias que antecedem o Rosh Hashaná, todo judeu busca melhorar sua conduta. Por muitas vezes, o pensamento de que é necessário revolucionar todos os atos acaba nos desestimulando. O pensamento de que precisamos entrar em uma miríade de assuntos complicados e resolvê-los desde a raiz nos provoca uma paralisação e nos faz pensar que nada disso nos diz respeito. A verdade é que não precisamos fazer grandes revoluções, mas apenas apertar os parafusos e afinar os cordões da alma.

Devemos verificar a nossa volta, descobrir onde é possível melhorar e o que pode ser aprimorado. Assim, também, precisamos analisar as nossas orações, ver onde é possível fortalecê-las, torná-las mais apropriadas e perfeitas. Simplesmente devemos checar um assunto após o outro e ver o que deve ser acrescentado, corrigido, focar no parafuso solto que precisa ser apertado.

E assim diz o Midrásh da porção de Behar sobre quem faz a teshuvá (retorno a D”us): “Se essa pessoa estava acostumada e estudar um capítulo – que estude dois capítulos -; uma página – que estude duas páginas”. Não é preciso caminhar pelas alturas, não é necessário buscar as revoluções. É preciso buscar apenas as ações simples, cotidianas e averiguar como é possível fortalecê-las e melhorá-las”.

Agora é a hora de analisar, aprofundar. Verificar o que afrouxou, o que precisa ser fortalecido. Essa é a oportunidade anual de fortalecer o cumprimento da vontade Divina em todas as cordas de nossa alma, retomar o ritmo espiritual à produção integral e chegar a Rosh Hashaná com os utensílios espirituais em sua melhor forma. Vamos nos fortalecer e verificar nossos atos e caminhos e, assim, lograremos entrar em um novo ano estando limpos e tinindo para cumprir sempre a vontade de D’us!
Shaná Tová Umetuká, um ano bom e doce para toda a comunidade judaica!

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