Editora e Livraria Sêfer, referência em livros judaicos

Joel Rechtman - Editor Executivo da TJ

Tribuna Judaica: A Sêfer completou 28 anos de atividade. Qual é o balanço deste empreendimento tão importante para o nosso Ishuv?
Jairo Fridlin: A Livraria Sêfer nasceu em 1993 para atender duas demandas principais: primeiro, permitir e incrementar a distribuição dos livros publicados pela própria Editora Sêfer desde 1986 – ou seja, há mais de 35 anos – e que causaram uma mudança significativa no dia a dia da comunidade judaica brasileira, especialmente nas sinagogas, que foi permitir que pessoas que não sabiam ler em hebraico participassem dos serviços religiosos ativamente, e não mais como meros expectadores. Através da transliteração – a pronúncia fonética das palavras que acompanha o texto original – e da tradução para o português, as rezas passaram a ser acompanhadas por todos, sem nenhuma dificuldade.

É estranho falar disso hoje, mas naquela época, era assim: as pessoas ficavam lá sentadas, olhando as paredes, batendo papo, sem entender nada. Quando lançamos o nosso modesto “Guia” para as Grandes Festas, e depois os Sidurim – tanto o de Shabat e Iom Tov quanto o para os dias da semana – houve uma grande mudança de atitude, que gerou integração e participação, e que culminou com os Machzorim de Rosh Hashaná e Iom Kipúr, momentos em que as sinagogas já costumavam encher de gente, mas que então voltaram a ter vida espiritual também. E o efeito disso é duradouro e contagiante, e hoje não há sinagoga que não tenha livros com tradução e transliteração para oferecer aos seus frequentadores, tanto as de rito ashkenazi quanto sefaradi. E sinto-me honrado e feliz de ter participado desse projeto de retorno e resgate das tradições judaicas.

Com a livraria funcionando, pudemos atender a segunda demanda, que era resgatar das prateleiras esquecidas das grandes livrarias os muitos títulos judaicos já publicados em português, mas que jaziam relegados e sem qualquer destaque. Assim, colocamos esses livros em evidência para que o público pudesse ter acesso a eles, assim como aos novos lançamentos de editoras judaicas que foram surgindo com o tempo, e concomitantemente passamos a editar títulos que entendíamos importantes para o desenvolvimento da identidade judaica. Depois de mais de 200 títulos publicados, creio que logramos cumprir esse objetivo também.

TJ: Destaque, por favor, algumas obras.
JF: Uau! Não é simples… Mas ter uma “Torá” em bom português era algo essencial, assim como o “Tanach” – ou seja, toda a Bíblia Hebraica. Quem dera tivéssemos o Talmud, mas como era algo que estava acima da nossa capacidade, publicamos várias obras a respeito, como o “A Ética do Sinai” e o “Talmud Essencial”, do saudoso Rabino Adin Steinsaltz. Também vários clássicos do pensamento judaico – como “O caminho dos justos” e “O Cuzarí” – e, mais recentemente, a íntegra do “Guia dos Perplexos”, do Maimônides. Publicamos as obras místicas do Rabino Aryeh Kaplan, bem como muitas do incomparável e saudoso Rabino Jonathan Sacks. E vários livros introdutórios, como o didático “O mais completo guia sobre Judaísmo”, os curiosos “Livros dos Porquês”, o clássico “Livro do Conhecimento Judaico” e o transcendental “Este é o meu Deus” – sem esquecer da nossa consagrada “Hagadá de Pêssach” e do doce “Sidurzinho para Crianças”, destinadas ao público infantojuvenil. Temos ainda modernos dicionários de hebraico e um eficaz método de aprendizagem do idioma, um livro de 2 volumes sobre a história do povo judeu e vários que comentam e interpretam a Torá, como o “Decifrando a Criação”. Sim, a variedade de temas é grande, pois muitas são as facetas do judaísmo e dos caminhos que levam uma pessoa a se integrar a ele. E decidimos apostar em todas.

TJ: O livro sempre teve protagonismo no judaísmo. Como você analisa o presente e o futuro?
JF: Eu diria que com otimismo. Cada vez mais pessoas – judeus e não judeus – despertam e procuram descobrir o que o judaísmo tem a nos ensinar hoje. Creio que, junto com toda a enorme quantidade de informação disponibilizada pelo mundo digital – e aí o fundamental é saber distinguir entre o que é confiável e o que não é –, o livro seguirá sendo um meio importante e insubstituível de a humanidade adquirir conhecimento. E as ferramentas eletrônicas das quais dispomos hoje possibilitam que os leitores encontrem os livros mais fácil e rapidamente, e por isso a Sêfer atua fortemente nos meios digitais e tem uma livraria virtual moderna, eficiente e confiável para atender o mercado consumidor brasileiro que cresce ano a ano.

TJ: E como os produtos religiosos entraram na Sêfer e, hoje, imagino, são parte importante dela?
JF: Isso começou como uma forma de oferecer produtos que fazem parte do cotidiano judaico – mezuzá, kipá, talit etc. –, pois não havia nenhuma loja grande e bem profissional especializada naquela época. Era outra demanda reprimida da comunidade que passamos a atender e que vem dando muito certo. Foi em função disso que surgiu o nosso lema – “O judaísmo mais perto de você” – e que transformou a Sêfer na livraria judaica do Brasil.

TJ: Conte-nos sobre os recentes e próximos lançamentos da sua editora?
JF: Há poucos meses relançamos o nosso bestseller “Sidur Completo”, que havia sido confeccionado com base no material editado em 1987 e 1988 – a época em que nos conhecemos numa pequena e charmosa empresa de edição gráfica nos Jardins, quando os livros eram “montados” na ponta do estilete e aplicados num gabarito com cola amarela, lembra? Não havia computador, editoração eletrônica, nada disso, e estava mais do que na hora de refazê-lo com ferramentas mais modernas e melhorá-lo graficamente, bem como aplicar nos textos o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 2009, porém mantendo suas peculiares características didáticas. O resultado ficou excelente, e estou agora fazendo o mesmo no “Machzor Completo”, que acaba de completar 30 anos.

O grande e recente lançamento do ano foram os cinco vultosos volumes da “Torá Interpretada”. Resultado de quatro anos de trabalho de uma dedicada equipe, trouxemos ao português os fascinantes e inigualáveis comentários sobre a Torá do eminente Rabino Samson Raphael Hirsch, um dos maiores líderes do judaísmo alemão do século 19 – e eu diria que um dos maiores expoentes do judaísmo de todos os tempos. Mas tem mais coisa para vir…

TJ: Você quer acrescentar alguma coisa antes de encerrarmos?
JF: Sim. Eu gostaria de agradecer a todos que colaboraram com o “Projeto Sêfer” nesses mais de 35 anos de atividade. Eu não fiz nada sozinho. Sempre tive o apoio da minha família, de líderes comunitários, de rabinos e pessoas que me incentivaram, desafiaram (no bom sentido) e apostaram na ideia de que o maior perigo para a identidade judaica é o desinteresse e a falta de conhecimento, e que o melhor antídoto para combater isso – e a sua pior consequência, que é a assimilação – é publicar livros e, assim, difundir o saber e aproximar as pessoas ao judaísmo. Agradeço a todos pela oportunidade que me deram de colaborar nessa batalha e servir o meu povo e a Deus. TJ

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