“É meu papel reduzir as diferenças e construir pontes

Joel Rechtman – Editor Executivo da TJ

Tribuna Judaica: A Conib é a legítima representante da comunidade judaica brasileira. Por que você decidiu voltar a presidir a entidade e assumir esta importante missão?
Claudio Lottenberg: Uma missão dessa magnitude não é uma opção de natureza individual. Fui sensibilizado por presidentes de federações, líderes empresariais, pessoas que vivem intensamente a nossa comunidade e que me sugeriram reassumir o papel de presidente da Confederação. Aceitei o desafio e submeti o meu nome ao processo eletivo dentro do espírito democrático que existe na Conib nesses mais de 70 anos de existência. A Confederação é o órgão máximo em termos de representatividade política da comunidade. Nós vivemos um momento muito delicado de tensões políticas e alta fragmentação de vozes dentro e fora da nossa comunidade. Pelos meus muitos anos de ativismo comunitário, senti que poderia contribuir para uma convergência em torno de pontos que me parecem fundamentais para os judeus brasileiros: promover um judaísmo vibrante e seguro no nosso país, lutar contra o antissemitismo e a deslegitimação de Israel, não permitir a banalização do Holocausto. Em cima destes pontos, não posso enxergar, independentemente de inclinações ideológicas, uma divisão comunitária. O mundo está muito polarizado, e infelizmente essa polarização também acontece na nossa comunidade. É meu papel neste momento reduzir essas diferenças e construir pontes. Aceitei o desafio, e já estamos trabalhando e muito nesta frente

TJ: A comunidade brasileira tem sofrido com a pandemia. Quais são as medidas que sua entidade pode tomar para minimizar esta situação?
CL: A Conib tem papel político. Não cabe a ela qualquer tipo de orientação de natureza médica, mas sim apoiar a boa ciência e buscar dentro das nossas possibilidades ajudar a todos, principalmente nas comunidades menores pelo Brasil, com orientações de melhores práticas comunitárias numa crise tão aguda.

TJ: Em tempos normais, as federadas distribuídas em treze estados brasileiros têm suas necessidades próprias. Como apoiá-las com necessidades tão distintas?
CL: Este é um dos maiores desafios numa comunidade com tantas heterogeneidades como a nossa, num país tão grande. São estágios diferentes, são condições econômicas distintas, focos de priorização nem sempre coincidentes. As comunidades maiores necessitam de convergências políticas para termos voz forte nos cenários estadual, nacional e internacional. Já as comunidades menores necessitam de apoio mais básico, de natureza religiosa, de gestão e de segurança. Isto tudo se faz com muito trabalho, boa vontade, capacidade de diálogo e em algo que eu acredito muito que é a formação de líderes. Estamos empenhados nisso e teremos um projeto ambicioso para capacitar novos líderes comunitários e aprimorar aqueles que já estão atuando.

TJ: O relacionamento com as autoridades governamentais brasileiras e israelenses é uma das atribuições do seu cargo. Como será na sua gestão?
CL: Este é um dos principais papéis da Confederação. Neste momento especialmente tenso e polarizado, é preciso respeito às diferentes opiniões e visões de mundo. Nossa comunidade é absolutamente plural, como o nosso país. Há judeus de direita, de esquerda, de centro, apolíticos… A Conib é representante de toda a comunidade, precisa ser universal, com interlocução permanente com aqueles que estão no governo e até mesmo com aqueles que não estão no governo, mas tem representatividade política no país. Sempre foi assim. O Brasil recebeu nossa comunidade de braços abertos, vivemos bem aqui, sem qualquer restrição. O presente momento é muito rico nas relações entre Brasil e Israel, e temos que fortalecer isso cada vez mais. O relacionamento com o Estado de Israel se faz diretamente com aqueles que o representam aqui e também com a liderança que está lá. Seguiremos fortalecendo laços localmente e, tão logo a pandemia permita, iremos a Israel visitar líderes e levar pessoas da área política brasileira para conhecer o país. Esse tipo de aproximação é fundamental e todos aqueles que presidiram a Confederação seguiram nessa linha. O ideal democrático e humanista faz parte da vida judaica e dentro disso o respeito à diversidade é parte intrínseca e inegociável. Trabalharemos dentro dessa perspectiva com afinco, sem inclinações, mas com opinião.

TJ: Envie uma mensagem de Pessach para os nossos leitores e o Ishuv brasileiro.
CL: O Pessach é um dos momentos mais importantes do calendário judaico. Reunimos a família e lembramos da saída do Egito e todas as suas importantes dimensões e lições, como descritas nos nossos textos sagrados e passadas de geração a geração. Como a geração do Êxodo, toda geração tem que fazer sua travessia. Nós estamos fazendo a nossa, no meio de uma pandemia duríssima e tão longa, que nos deixa tristes e exaustos. Mas, como em gerações anteriores, saberemos superá-la com aquilo que nos define como judeus: o nosso forte espírito comunitário e a busca do bem comum. Chag Sameach a todos.

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