“Nós, líderes, devemos fomentar a solidariedade”

Joel Rechtman – Editor Executivo da TJ

Tribuna Judaica: Hoje, com a pandemia, de certa maneira nos sentimos no Egito, sem liberdade. O que os nossos grandes sábios falariam sobre esta situação?
Rabino David Weitman: Sem dúvida que a pandemia trouxe consigo sofrimento. Tem gente ainda em isolamento, sem ver a família há muito tempo, sem colocar o pé na rua. Isso realmente traz o sentimento de falta de liberdade. No entanto, não podemos comparar isso com o Egito. Lá foram 210 anos de sofrimento, de escravidão, de massacres premeditados, de crianças afogadas no Nilo e esmagadas nas paredes das pirâmides. Claro que quando a pessoa fica presa em casa, sente falta da liberdade, mas a grande habilidade judaica é desenvolver a liberdade de pensamento, ter a mente livre, ler e se comunicar – hoje há telefone, Zoom, aulas on-line, que permitem esse exercício. Ninguém está totalmente sozinho. Vamos manter a cabeça no lugar e, se D’us quiser, vamos sair disso logo.

TJ: Infelizmente, nós brasileiros estamos experimentado uma sensação de estarmos em um verdadeiro deserto, sem vacina. É possível fazer esta comparação com a travessia judaica após a saída do Egito?
RDW: Há realmente uma demora para a chegada da vacina para nós brasileiros. Pela Torá, somos obrigados a fazer o máximo para preservar nossa saúde. Já que todos os peritos dizem que a vacina, seja qual for, ajuda a preservar a saúde e proteger contra o vírus, temos que nos vacinar. Há muitos países mais adiantados na vacinação – Israel é o grande exemplo disso –, mas vamos olhar da forma positiva. Estamos em um pequeno deserto sim, mas temos que lembrar que D’us nos fez milagres no deserto. O povo de Israel andou no deserto por 40 anos e sobreviveu. D’us nos mandou a maná, as nuvens protetoras, o rio milagroso de Miriam, ninguém ficou com fome ou sede e todos chegaram são e salvos à Terra de Israel. Estamos ansiando pela vacina, é verdade, mas D’us não abandona ninguém e a cura está chegando. É uma questão de tempo.

TJ: Qual é o papel dos líderes religiosos neste momento e o que a Torá nos ensina para enfrentar esta calamidade?
RDW: Os líderes todos, religiosos ou não, têm que trabalhar para que a fé do nosso povo venha à tona, apareça e se manifeste cada vez mais. Temos que reforçar a fé de nosso Ishuv e explicar a todos que o povo de Israel já passou por diversas adversidades e sobreviveu. A luz está próxima, a salvação está chegando. D’us inspirou cientistas para fazer uma vacina em tão pouco tempo. Estamos próximos da solução e ninguém pode perder a esperança e, se possível, também deve manter a alegria e o otimismo. A segunda função das lideranças é fomentar a solidariedade. Em um momento como esse, com famílias sofrendo – algumas que perderam entes queridos, outros com parentes e amigos nos hospitais – precisamos mostrar o grande cartão de visitas do Judaísmo que é a solidariedade, estender a mão! Se você tem um vizinho que não sai de casa há um ano, deixe um pãozinho na sua porta, algum recado, faça telefonemas, dê sorrisos, ampare quem precisa. Nesse momento, a solidariedade para amigos, vizinhos, judeus e não-judeus, é essencial. Nos porões da Inquisição ou nos guetos durante o regime nazista, nunca deixamos de ser solidários, e assim temos que nos manter.

TJ: Deixe uma mensagem de Pessach para nossos leitores.
RDW: Pessach celebra a saída do Egito. O principal propósito dessa libertação era chegar ao Monte Sinai, para os judeus receberem a Torá do Todo Poderoso, se tornarem um povo, uma nação com regras, para trazer ao mundo princípios e valores eternos. Tudo isso para melhorar esse mundo. Aqui temos um elemento muito interessante que pode ser aplicado aos nossos tempos. Se recordarmos, alguns judeus saíram do Egito mancos, outros cegos, pois sofreram os piores castigos pelos egípcios. A Torá nos fala que, quando chegaram ao Monte Sinai, todos foram curados. Os mancos andaram, os cegos enxergaram, os surdos escutaram. Todos milagrosamente se sentiram bem e recuperaram sua energia. Esse é o nosso desejo para todos. Que a saída de Pessach, deste ano de 5781, possa trazer cura e salvação para todos, para que tempos melhores cheguem. Pessach Casher VeSameach a todos!

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