Conib mais forte e preservada – um balanço

Fernando Lottenberg - Especial para a TJ

É um privilégio e uma honra servir à comunidade judaica. Especialmente presidir a Conib nos últimos seis anos, um período cheio de desafios e conquistas. Eu e minha diretoria temos muito orgulho de entregar a nossos sucessores uma Conib forte, representativa, legitimada e plural. Não é um mérito nosso, em particular, é a obrigação de toda liderança.

É também motivo de grande satisfação termos evitado o que julgo ter sido a maior ameaça ao longo de nossa gestão: a ameaça de divisão da representação comunitária, em função das polarizações políticas na sociedade brasileira.

Mesmo enfrentando incompreensões, pressões extremas e, por vezes, o silêncio de quem esperávamos apoio, evitamos o alinhamento automático, a adesão ou a oposição sem princípios. Ao longo de dois mandatos, nossa diretoria tomou decisões de forma consensual e solidária, mantendo a Conib como a única representação institucional, em nível nacional da comunidade judaica brasileira. Assim, não há uma “Nova Conib”, como não houve uma “velha”. Cada diretoria tem suas prioridades e seu estilo, mas, felizmente, temos tido a sabedoria de nos manter unidos, numa mesma direção. Como tem sido há 72 anos.

Atravessamos mandatos de três presidentes da República e um impeachment. Passamos por eleições que demoliram forças políticas tradicionais e trouxeram atores novos. Sobrevivemos à maior recessão de nossa história e estamos em meio a uma terrível pandemia. E sempre mantivemos – ou procuramos manter, quando houve interlocutores – um diálogo respeitoso, jamais procurando intencionalmente o dissenso, mas tampouco buscando o fácil consenso acomodatício ou o silêncio conveniente.

O resultado é que vimos crescer o conhecimento a nosso respeito, o fortalecimento de nossa marca institucional e o bom trânsito nas diversas esferas dos Três Poderes, o que permitiu trazer resultados concretos à comunidade: o avanço do diálogo inter-religioso; a aprovação de uma nova lei antiterror; a inclusão do Holocausto na Base Nacional Comum Curricular; a mudança na data do Enem e outras medidas que garantem os direitos de quem guarda o Shabat; as missões de alto nível a Israel, levando parlamentares, jornalistas, ministros do STF e do STJ; a iluminação das torres do Congresso Nacional, no Yom Hashoá, com os dizeres: “Holocausto Nunca Mais”; a pesquisa, conduzida com a Fundação Getúlio Vargas, sobre o combate ao discurso de ódio; a presença de convidados internacionais de alto nível, em nossas convenções, trazendo para nossa comunidade o que há de mais atual e relevante nos debates sobre questões judaicas e de Israel, no mundo; a participação, como amicus curiae, em julgamentos na Suprema Corte, sobre temas de nosso interesse – como a liberdade religiosa e a remoção de conteúdos em redes sociais. A lista de realizações é longa e nos enche de orgulho.

No campo internacional, temos sido convidados a participar de debates sobre temas sensíveis, na qualidade de relatores, em foros como o Congresso Judaico Mundial, o American Jewish Committee e a Anti-Defamation League.

Em Israel, temos dialogado com os Ministérios da Diáspora, das Relações Exteriores e de Assuntos Estratégicos, bem como com a Agência Judaica. O ministro da Defesa e primeiro-ministro alterno, Benny Gantz, participou de nossa última convenção.

Saudável não-alinhamento

Importante notar também que as recentes mudanças no cenário político – global e local – reforçam a necessidade estratégica de perseverar com esse saudável não-alinhamento, marca de nossa gestão. Pois, quando a ignorância se torna um critério aceitável, a falta de civilidade um hábito, e a irracionalidade um parâmetro de decisão, sabemos, com base em nossa história e em nossos valores, que esse não é o nosso lugar. Além de tudo, nossa comunidade é plural. E, se a pluralidade é marca na base, deve sê-lo também em suas instituições representativas.

Fomos capazes de defender publicamente o pluralismo comunitário, ao deixamos claro não haver apoio ou oposição automática da representação comunitária a quaisquer governos, em qualquer nível. Conseguimos também que a imprensa deixasse de fazer associações automáticas e simplificadoras, ainda que alguns na nossa comunidade tenham pretendido falar em seu nome, sem que para isso tenham recebido mandato. Após alguma confusão, isso hoje está claro perante a opinião pública – interna e externa.

E, se soubemos divergir, soubemos também nos unir em torno daquilo que é essencial. Como o combate ao antissemitismo e ao racismo; a defesa do Estado de Israel, da legitimidade do sionismo e das boas relações entre Brasil e o Estado judeu; a defesa da democracia e dos direitos humanos.

Também lutamos para nunca deixar apagar a chama da memória do Holocausto, posicionando-nos também por meio de ações legais, quando necessário, sempre que se tentou banalizar esse mal absoluto. Essa memória significa relembrar, educar as novas gerações, punir quem o nega ou o diminui e respeitar os sobreviventes entre nós.

Essa é uma agenda capaz de inserir os temas e as preocupações da comunidade judaica em pautas maiores da sociedade brasileira, na direção do diálogo, do respeito e da paz. Respaldados em nossa credibilidade, estamos estabelecendo parcerias com redes sociais, tornando-nos interlocutores qualificados para o trato de postagens de ódio, negacionistas e antissemitas.

Fizemos tudo isso sempre com coragem, baseados em valores e princípios, para resistir a pressões inadequadas e manter o rumo.

Devo profundos agradecimentos: aos colegas de diretoria, pelo trabalho duro e espírito de unidade. Aos profissionais da Conib, por permitirem a concretização de nossos projetos. Aos nossos generosos doadores, sem os quais isso tudo não teria sido possível. Aos presidentes de federações e associações, sempre unidos conosco. À mídia judaica, que divulgou, com fidelidade, o que aconteceu durante esse período. Às organizações judaicas internacionais, que não nos faltaram e sempre nos prestigiaram. À minha família, que compreendeu e apoiou o nosso esforço de forma permanente. E, principalmente, aos homens e mulheres da nossa comunidade, razão última deste trabalho.

Encerro com os melhores desejos à nova diretoria, liderada pelo Claudio Lottenberg, que tem todas as condições de realizar uma grande gestão.

Muito obrigado, toda rabá!

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