Breaking news: uma coluna vacinada contra as notícias negativas

Caio Blinder – Especial para a TJ

Maio, primavera para mim no hemisfério norte. A estação se esbanja depois de um longo inverno e obviamente estou sendo metafórico, falando da pandemia. Há uma sensação para nós, ao norte, que as coisas começam a se normalizar. Fico até um pouco constrangido por ensaiar este desafinado grito de vitória.

Em primeiro lugar, por ter aprendido um alerta essencial no começo da pandemia, numa metáfora para tempos de distanciamento social: abrace a incerteza. Não anuncie um prematuro atestado de óbito do inimigo. E o segundo motivo para constrangimento é que escrevo para brasileiros e a estação ao sul segue sendo de um longo inverno. Dito isso, saúdo as pequenas vitórias na nossa Banânia (sim, ainda sou brasileiro de corpo e alma).

Senti uma grande emoção, ainda no final de fevereiro, quando minha mãe e pais de amigos meus receberam a primeira dose de vacina. Não sou garoto (tenho 63 anos) e assim fui festejando os relatos de amigos meus de infância e gente conhecida da minha faixa etária sendo vacinada ao longo de abril.

Aqui em cima, nem se fala. No meu entorno, estamos todos vacinados, plenamente vacinados. Com as cautelas devidas, começo a normalizar a vida. Ao ar livre, em locais menos densos, já caminho sem máscara. Em abril, pela primeira vez estive no recinto fechado em restaurante (na nossa baia e sem máscara) na companhia de dois colegas de trabalho. Minha mulher retomou as reuniões semanais com as cinco mulheres amigas (clube da Luluzinha) e já peguei o primeiro avião para visitar minha filha mais velha na Flórida.

Acabei me estendendo nesta introdução. Sorry. Meu plano inicial era basicamente fazer um breve relato de uma boa notícia pessoal e aí elaborar alguns tópicos positivos. Decidi que esta coluna será consagrada somente para notícias positivas. Sempre achei este enfoque um mau jornalismo, mas são tempos extraordinários e assim me dou ao luxo de apelar para a fórmula.

Na verdade, a inspiração para esta coluna foi uma reportagem no New York Times sobre a alegria de pessoas na faixa de 80 anos (e acima) que finalmente podiam respirar e curtir a vida graças à vacinação. Era uma reportagem sobre pessoas que vivem mais ao norte (Nova York, Chicago e Boston) e que passam parte do ano na Flórida. Muitos dos sobrenomes eram indiscutivelmente judaicos. Havia a saborosa história de um nonagenário que pegou de novo o avião para cair na gandaia na Flórida. E o que seria gandaia para ele? Jantar dançante com amigas. É ou não é uma história maravilhosa de vitória da vida sobre o vírus?

Sobreviventes do Holocausto

E falando do pessoal mais idoso (claro que a faixa que mais sofreu e sofre na pandemia), aqui vai outra história para cima. Quando se constatou no final de março que, embora fossem elegíveis para a vacina desde janeiro, apenas 42% dos nova-iorquinos com mais de 85 anos estavam sendo plenamente vacinados, grupos comunitários resolveram entrar em ação.

Para organizações judaicas, o fato de que este grupo etário inclui tantos sobreviventes do Holocausto – e que estão entre os mais preciosos e vulneráveis integrantes da comunidade – foi o chamado para uma mobilização de emergência.

Em alguns centros comunitários do Brooklyn, foi acionado um maciço esquema de vacinação. E que maravilha: em questão de semanas, o Boro Park Jewish Community Center ajudou na vacinação de 750 sobreviventes do Holocausto, pessoas que têm um tremendo papel na vida da comunidade, mas do que elas mesmas imaginam.

Calcula-se que no mundo todo ainda haja 350 mil sobreviventes do Holocausto e Nova York, claro, que tem uma das maiores concentrações, com cerca de 20 mil deles, sendo que 80% estão congregados no Brooklyn. Já na área metropolitana, temos mais 15 mil.

Os sobreviventes evidentemente são idosos (pelo menos acima de 75 anos) e muitos vivem na penúria. O grupo filantrópico UJA alerta que na área metropolitana de Nova York, 40% dos sobreviventes do Holocausto estão abaixo do nível de pobreza. A UJA é fenomenal e nos últimos meses participou da mobilização para vacinar milhares de sobreviventes.

Boa parte da assistência às vítimas é canalizada através de reparações do governo alemão, por uma organização fundada em 1951 e em outra boa notícia, esta organização anunciou em abril que vai financiar um novo programa para ajudar na vacinação sobreviventes do Holocausto no mundo inteiro.

Biden e os direitos humanos

E vamos continuar nas vizinhanças do tema Holocausto. Eu tenho mais um motivo para festejar o quadragésimo-sexto presidente dos EUA. Joe Biden reabilita a tradição dos EUA como um paladino dos direitos humanos (na complicada transação com a realpolitik).
Trump se lixava para a questão (na verdade, ele sabotava direitos humanos), enquanto Obama não o colocava acima da realpolitik.
Biden encara o desafio. O presidente declarou formalmente que os massacres dos armênios nas primeiras décadas do século 20 foram genocídio.

Sucessivos governos americanos se esquivaram da categorização para não colidir com o cada vez mais complicado aliado turco (país integrante da Otan). No entanto, Biden descreveu as deportações, fome e massacres dos armênios nas mãos dos otomanos turcos, a partir de 1915, como genocídio.

A linguagem direta fez parte da declaração anual em 24 de abril, Dia da Lembrança. Os turcos negam, mas a maioria dos historiadores reconhece que o tratamento dispensado pelo Império Otomano a armênios e a outras minorias étnicas e religiosas, entre 1915 e 1923, foi genocídio.

Pelos cálculos do Instituto Nacional Armênio, agora 30 países reconhecem que o genocídio foi genocídio. Brasil e Israel ainda não estão entre eles. Biden já havia feito a promessa e a concretização culmina décadas de um processo neste sentido pelos EUA (O Congresso já havia reconhecido).

Parte do cálculo é que as relações entre EUA e Turquia já estão tão deterioradas, que este novo lance não terá efeitos catastróficos. É verdade que Israel ainda não chegou lá e prioriza a realpolitik (apesar das deterioradas relações com a Turquia de Erdogan) e não os imperativos morais.

Este assunto dos interesses estratégicos de Israel é muito complexo e como disse no começo da coluna, estou aqui hoje para dar apenas notícia positivas e não reclamar ou criticar. Então, vou poupar inclusive a política externa de Israel e a zorra eleitoral que parece sem fim.

Eu sigo orgulhoso dos acertos (muito acima dos erros) fulminados por Israel nesta pandemia. Cada imagem de gente festejando a volta da normalidade graças à estupenda campanha de vacinação me deixa muito feliz.

Então, vamos arrematar com mais notícia positiva sobre Israel. Pela primeira vez na sua história, Israel está no ranking das 20 maiores economias com base no PIB per capita.

De acordo com a compilação da revista Forbes, com o PIB per capita de US$ 43.689 em 2020, Israel ficou na décima-nona posição, acima (atenção) do Canadá e mais bem posicionado até da idílica Nova Zelândia.

Não vou me enredar em números e apenas lembro que os campeões no ranking são: Luxemburgo, Suíça, Irlanda, Noruega e EUA. Claro que 2020 foi um ano horroroso, mas Israel se saiu melhor na pandemia do que outros países desenvolvidos e também graças ao vigor do seu setor high-tech, cartão postal de uma sofisticada economia.

Até a próxima e vacina já.

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