Memorial do Holocausto lança livro Sobreviventes II em live com Fernando Henrique Cardoso

Iza Rapler - Especial para a TJ

Dois anos de contatos com 13 personagens resultaram na segundo volume do livro “Sobreviventes”. Marcio Pitliuk captou as histórias e Luiz Rampazzo retratou “sobreviventes do Holocausto que vivem no Brasil”, subtítulo da obra. O lançamento, realizado em uma live do Memorial do Holocausto e introduzida pelo rabino Toive Weitman, reuniu os relatos pessoais de Marika Gidali, Jánus Kovesi e George Legmann, tendo como mediadora a jornalista Joyce Pascowitch, que definiu o livro por suas “fotos impactantes e textos sensíveis”. Pitliuk destacou o “aprendizado” e Rampazzo definiu “heroísmo” como palavras-chave para essa vivência com os protagonistas.

Jánus Kovesi contou: “O medo era muito grande, eu era uma criança de 12 anos, meu irmão tinha oito. Uma devastação incrível, como um povo mudou tanto ouvindo o discurso de um nazista. Vários milagres fizeram com que pudéssemos escapar e estar aqui, hoje. Este livro é importante para mim e meus filhos, tanto que cada um dos meus netos recebeu seu exemplar autografado por mim”.

Muito emocionada, a bailarina Marika Gidali relembrou momentos por que passou: “Era tanta loucura, levaram minha mãe e nos deixaram em casa, sozinhos. Medo eu não tinha, tinha pavor. Só consegui falar sobre isso quando Decio (Otero, seu marido, companheiro na criação do famoso Ballet Stagium) criou uma coreografia sobre o Holocausto. Ao chegar no Rio de Janeiro, me senti abraçada, não precisei descer da calçada para andar (na Europa, não era possível aos judeus andarem na mesma calçada dos não judeus). Quero mostrar a todos a liberdade de pensar e de agir que tenho, é assim que me realizo”.

A história de George Legmann emociona a ele e a todos que o ouvem – um bebê nascido em pleno Holocausto no campo de concentração de Dachau. “Não é por acaso que esse livro está sendo lançado no Dia das Mães. Morreram um milhão e meio de crianças, tive a sorte de sobreviver graças à força de minha mãe e minha avó. A minha primeira impressão, ao chegar, de navio, ao Rio de Janeiro, foi excepcional: olhando o Cristo Redentor a sua frente, minha mãe disse: ‘Que país maravilhoso, nem conhece a gente e nos recebe de braços abertos’.”

Passado e futuro

O destaque da tarde estava ligado à presença de Fernando Henrique Cardoso, que dialogou com Joyce Pascowitch sobre passado e futuro. Ao ser perguntado como fazer com que o Holocausto não se repita, foi enfático: “Só há um jeito: não esquecer o passado e é o que estamos fazendo neste momento. É reviver a História!”

O ex-presidente destacou a importância do lançamento do livro. “Tenho em mãos este livro ‘Sobreviventes II’, entre eles há um que trabalha comigo. O livro mostra o que aconteceu, violência sobre violência, indescritível. Famílias que eram devastadas, pessoas que eram mortas uma na frente da outra por maldade, crueldade, visando a expansão da Alemanha, do nazismo, de uma ideologia. Esse livro é muito importante, aprendi bastante com a leitura”. E complementou sobre Legmann, citado anteriormente: “Não sabia dos detalhes da história dele. O Legmann é uma pessoa fora de série, não por acaso, ele sobreviveu ao Holocausto, ele e aqueles que sobreviveram, vários são retratados nesse livro, aprenderam que a vida não é feita só de glórias, de vantagens, de facilidades, é feita de luta; mostra que eles teimam em viver e o George é um lutador, tenho muita admiração por ele e aumentou ainda mais essa admiração com a leitura”.

Ao ser perguntado se não aprendemos nada depois de tantos anos, FHC lembrou a infância. “Me lembro quando criança a guerra no Brasil, meu pai era general, meu avô era marechal, a guerra para mim foi vivida pessoalmente, mas não sabíamos dos horrores praticados pelos nazistas. Devemos aprender com os que viveram nessa época terrível, respeitar e tentar explicar aos demais o que aconteceu porque o silêncio mata e é cúmplice das ditaduras autoritárias e totalitárias. Temos que voltar ao passado, não deixar nunca que este fenômeno como o Holocausto, que se espalhou no mundo ocidental, na Europa especialmente, volte a existir. Pode voltar, pode! Se depender de mim, não vai voltar nunca, nunca deixarei de ser solidário”.

O livro “Sobreviventes II” foi editado pela Mayanot, uma homenagem de Helio, Salo e Samuel Seibel a história de seus pais, Rosa e Bernardo Seibel z’l, imigrantes e pioneiros, amantes das causas justas.

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