Annenberg: Influência dos valores judaicos na política

Joel Rechtman - Editor Executivo da TJ

Tribuna Judaica: Conte-nos um pouco sobre a sua passagem pela Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia?
Daniel Annenberg: Eu fui convidado para criar a Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia de São Paulo (SMIT), em 2017, e fiquei a frente dela até 2019. Pude levar a minha experiencia no Poupatempo e no Detran para ajudar a melhorar o atendimento ao cidadão e cidadã também na SMIT. Meu foco na pasta foi o de ampliar programas de inclusão digital, aprimorar a área de tecnologia da informação e fomentar o setor de inovação em governo. Entre as conquistas que tivemos, destaco uma, especialmente: a criação do Descomplica SP, espécie de versão municipal do Poupatempo. São 8 unidades do Descomplica SP, com satisfação de 95% dos usuários.
Mas outras iniciativas também colocaram a cidade de São Paulo em um patamar digno de reconhecimentos, como o Connected Smart Cities & Mobility Digital Xperience, que este ano elegeu a capital paulista como a cidade mais inteligente e conectada do Brasil (1º lugar em categorias como tecnologia e inovação, e mobilidade e acessibilidade). Nesse conjunto de ações realizadas na minha gestão frente à SMIT também expandi o WI-FI Livre SP, quase triplicando os pontos pela cidade; investi nos espaços Fab Lab Livre SP e MobiLab+; ampliei o Sistema Eletrônico de Informação – SEI, que digitalizou 99% dos processos da Prefeitura; e implementei o Empreenda Fácil, que diminuiu os prazos para a abertura de empresas de 100 para 4 dias.
Quero continuar utilizando a minha experiência em utilizar a tecnologia e a inovação na gestão pública para transformar ideias, propostas e projetos em leis, para que tenhamos uma São Paulo cada vez mais inteligente, conectada, acessível, inclusiva e justa para todos e todas.

TJ: A sua volta à Câmara Municipal proporcionou um novo olhar para cidade de São Paulo, não apenas como gestor, mas como legislador. Como sua formação judaica influenciou neste novo desafio?
DA: Tive uma educação de valores humanistas. Como meus pais me inspiraram a sempre olhar e trabalhar pela justiça, igualdade e cidadania, desde cedo tenho como motivação pensar soluções olhando com empatia para os problemas e as necessidades das pessoas. A minha formação judaica tem influência direta nisso, na minha preocupação com os menos favorecidos, com aqueles que mais precisam de ajuda. Os desafios do nosso tempo – a desigualdade social, os altos índices de violência e pobreza, o desemprego, a falta de acesso à informação e aos serviços de qualidade, os preconceitos contra as minorias, só para citar alguns – segregam mais as pessoas. E o judaísmo estimula a união. Meu propósito no setor público é simplificar a vida das pessoas; é oferecer serviços de qualidade para todos e todas e de forma igualitária, sem nenhum privilégio. Como legislador, espero sempre olhar para todos da mesma forma, não esquecer ninguém.

TJ: Hoje, depois de quatro anos, quais foram os destaques sua atuação tanto no executivo como legislativo para a comunidade judaica?
DA: Sempre busquei representar a comunidade judaica em todos os sentidos e pautas. Tenho trabalhado para fortalecer atividades e eventos de entidades judaicas (por meio de emendas parlamentares) como o Clube Hebraica SP, CIP, Unibes, Fisesp – Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fest Shalom), Sinagoga Talmud Thorá (Festa de Chanucá), Yeshiva Lubavitch (Parada de Lag Baomer) e Memorial do Holocausto (Exposição), no bairro do Bom Retiro. Também nesse ano criei a lei que inclui a Festa de Purim no calendário de eventos da cidade de São Paulo.
Além disso, meu gabinete alocou verbas para obras de revitalização do tradicional Pletzale, cruzamento das ruas da Graça, Correia de Melo e Ribeiro de Lima, também no Bom Retiro. Tenho ainda um projeto de lei em tramitação que vai homenagear o Rabino Henry I. Sobel, dando seu nome a uma praça em Higienópolis. E enquanto Secretário Municipal de Inovação e Tecnologia, incentivei a entrada de empresas israelenses de tecnologia e inovação na Prefeitura de São Paulo.

Recentemente, passei por um episódio lamentável e criminoso, fui alvo de um ataque antissemita em plena Câmara Municipal, feita pelo vereador Adilson Amadeu, e graças à relação de confiança e cuidado mútuo, recebi o suporte de duas importantes entidades judaicas – Fisesp e Conib – para avaliar as medidas legais e entrar com uma ação na justiça buscando reparação para essa agressão inconcebível. Espero seguir contando com o apoio de toda a comunidade judaica, para continuar representando esta cultura pelos próximos quatro anos na Câmara Municipal.

TJ: Você sempre se caracterizou em não prometer e sim entregar. Qual é a sua mensagem para o nosso Ishuv neste momento?
DA: Estamos vivendo, realmente, um momento atípico – a pandemia de uma doença complexa e ainda sem vacina, que ocasionou uma série de outras crises – e o que mais ficou claro para nós é a necessidade de empatia, solidariedade e revisão de ações e medidas, tanto de governos, empresas e instituições, quanto de cidadãos e cidadãs. Eu vejo este momento como uma travessia sem manual, que tem exigido de todos nós, em várias esferas.

Aproveitando a reflexão que nossa comunidade ainda está fazendo, por conta do Rosh Hashaná, a minha mensagem é de agradecimento ao apoio que tenho recebido e me disponibilizar para seguir contribuindo com o judaísmo, me inspirando nos valores dessa cultura em minha atuação pública. Que possamos renovar a esperança com relação à Covid-19 e aos acontecimentos desafiadores pela qual a nossa humanidade está vivendo (ataques antissemitas, fake news, preconceitos contra as minorias, por exemplo), acreditar que vamos sair desse momento e seguir atentos e generosos, como tem feito entidades da comunidade judaica, agindo de forma forte, solidária e engajada na crise da Covid-19. Sairemos dessa mais fortes.

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