Lottenberg fala sobre o papel da Conib no ano eleitoral

Joel Rechtman - Editor Executivo da TJ

Tribuna Judaica: A Convenção da Conib foi um grande sucesso de público. Quais foram os principais resultados?
Claudio Lottenberg: Um dos focos da atual gestão é o de aprofundar a utilização das plataformas digitais de comunicação. A questão é democratizar o acesso à informação de nossa comunidade dentro da perspectiva política e nos dois sentidos: informando e na busca de alinhamento de discursos. A convenção nasceu assim e já na primeira reunião com Mirela Radomysler, nossa diretora que coordenou o evento, combinamos que nossa convenção teria uma dimensão maior que não só das federações, mas da comunidade como um todo. Independentemente da questão formal e regimental que se faz pelas representatividades estaduais, encontraríamos um formato para que a comunidade participasse. Fato é, que organizamos uma pauta dos temas que nos são fundamentais e, por meio de canais digitais, inserimos a comunidade ampla. Fomos criativos, pois buscamos também pessoas que não tem cargos dentro da estrutura formal, mas que atuam em suas carreiras sendo identificadas como judeus. O resultado é que tivemos uma audiência bastante representativa. Isto é positivo, pois muito embora a representatividade se faça dentro de uma estrutura de governança legítima, ouve-se da comunidade o desejo de estar mais presente e foi o que de fato aconteceu.

TJ: O ano eleitoral se aproxima. Você recebeu críticas por participar de eventos ligados ao presidente Bolsonaro, e posteriormente ao ex-presidente Lula. Como se deve explicar o papel de um líder comunitário?
CL: Historicamente, a Conib participa de encontros políticos, sendo função precípua do presidente construir pontes. O grupo Prerrogativas, de natureza jurídica (assim como Esfera, Lide, Unidos Brasil e outros), organizou um encontro com vários políticos brasileiros dentre eles o presidente Lula e outros candidatos ali presentes, como o governador Alckimin, o presidente do Tribunal de Contas, a senadora Simone Tebet e outros membros do parlamento. As intersecções que nos colocam em contato com outras pessoas, diante de diferentes situações e em diferentes momentos da vida podem, muitas vezes, deixar transparecer uma afinidade, uma afiliação ou um compartilhamento de ideias e, de forma mais rara, ideais comuns. Isto confunde, mas não há como imaginar que a representatividade exista de outra forma. São os riscos da liderança. Seguiremos exercendo nosso papel de representatividade, tendo ciência de críticas por parte de alguns, posto que isto também aconteceu recentemente quando me encontrei com o presidente Bolsonaro. Vejo a interface do relacionamento como algo inerente às nossas funções e entendo as críticas, muitas vezes como parte de uma leitura incompleta e até tendenciosa. A esquerda crítica à ligação com políticos da direita e vice-versa.

TJ: Tradicionalmente a Conib, em anos eleitorais, prepara eventos com os candidatos majoritários, para escutar as suas posições em relação à comunidade e a Israel. Como será em 2022?
CL: A estrutura de encontro com candidatos a cargos majoritários deverá ser a mesma, embora exista uma mudança substantiva em relação a períodos anteriores, justamente como fruto de uma crescente e importante alavanca do mundo digital. Em função da pandemia, os encontros presenciais estão prejudicados. Isto por um lado poderá se reverter ou poderá ser acentuado, favorecendo com que os encontros passem a existir mesmo que não fisicamente. Pretendemos e iremos conversar com todos os candidatos, trazendo nossas inquietações relativas à banalização do Holocausto, nossa luta contra o antissemitismo e a importância da boa relação com o Estado de Israel. Como judeus brasileiros, esta é a nossa pauta.

TJ: A minissérie “Passaporte para a Liberdade”, exibido pela Rede Globo, tem como protagonista Aracy de Carvalho Guimarães Rosa. Qual a importância de sua história e atuação durante a Segunda Guerra Mundial ser exibida para o grande público?
CL: Este seriado tem papel significativo no que diz respeito às vítimas do Holocausto, sua memória e todo um discurso contra a intolerância. O Museu do Holocausto de Israel, os testemunhos das pessoas e dos familiares salvos feitos pela Fundação Spielberg e a literatura em forma de documentação comprovam o papel heroico de Aracy Guimarães Rosa. Ela não era parte do staff diplomático, sendo uma funcionária contratada e, portanto, existem muitas coisas que foram por ela feitas e que nem sabemos de maneira documental. Somos muito gratos por aquilo que ela fez no momento crítico de uma Alemanha perseguindo os judeus e promovendo uma verdade indústria de morte. Naquele momento, qualquer simpatia ao nosso povo, por menor que fosse – o que não era o caso –, já mereceria nosso reconhecimento.

TJ: O ministro das Relações Exteriores, Yair Lapid, que deve assumir em breve a liderança do governo de Israel, citou como exemplar a postura do Brasil em relação ao Estado Judeu. Você, que já testemunhou as questões com Ahmadinejad e declarações que citavam o Brasil como anão diplomático, o que tem a nos comentar?
CL: Este é um fato que deve ser reconhecido e comemorado. Nos últimos três anos, o Brasil mudou muito a suas relações com o Estado de Israel e as condenações que aconteciam de forma sistemática por movimentos oriundos da legítima defesa do Estado Judeu frente as agressões terroristas, foram substituídas por um clima de diálogo e de melhor entendimento. Este aspecto merece não só ser lembrado nas futuras frentes, mas será objeto de nossa afirmação como uma exigência, pois não podemos aceitar que um país democrático e com papel tão relevante no Oriente Médio não possa se defender de agressões. Israel é um orgulho para a sociedade contemporânea e merece ser tratado com diálogo e respeito, o que nem sempre tem acontecido no mundo contemporâneo. O Brasil deve reconhecer seu importante papel como estado democrático sem precedentes no Oriente Médio.

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