Meio século da UTI do Einstein

Joel Rechtman - Editor Executivo da TJ

Meio século atrás, pacientes que sofriam um infarto grave recebiam os primeiros cuidados e ficavam internados em quartos de hospitais. Muitos apresentavam arritmias e não sobreviviam.

Com o objetivo de mudar este cenário, surgiram as primeiras unidades coronarianas, que monitoravam os pacientes para reverter as arritmias e outras intercorrências. No início dos anos 1970, surgiram as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Já com esse nome, passaram a receber também pacientes submetidos a grandes cirurgias e aqueles com doenças graves, que demandavam mais assistência e contavam com vigilância integral de médicos e enfermeiros à beira do leito.

Com o passar dos anos, as UTIs foram evoluindo e ajudaram a disseminar para outras partes dos hospitais condutas de cuidados e segurança dos pacientes, governança clínica e protocolos rígidos. A Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Israelita Albert Einstein foi inaugurada em 1972, como uma das pioneiras no país. “Há 50 anos, não era fácil sensibilizar médicos para que direcionassem suas carreiras para um hospital novo, numa região distante da cidade, e o convite a médicos jovens e promissores foi um passo importante.

Com o tempo, a UTI se transformou em geradora de lideranças”, contou Dr. Claudio Lottenberg, presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. “O segundo acerto foi criar e investir em uma infraestrutura tecnológica, em um tempo em que tecnologia não era um grande diferencial”.

A UTI do Einstein inovou ao formar equipes multiprofissionais, humanizar o cuidado com o paciente, criar inúmeros protocolos e condutas e investir em tecnologia. Em 2008, toda a experiência adquirida na Unidade Morumbi foi estendida aos pacientes do SUS, por meio de contratos com o setor público. Hoje, o Einstein administra 100 leitos de UTI nos dois hospitais públicos que gerencia em São Paulo. E mais 40 no HMAP (hospital público de Goiânia). No total, entre públicos e privados, são 290 leitos de UTI e semi-intensiva. “A criação de uma UTI moderna, com protocolos rígidos e equipamentos de ponta, permitiu ao Einstein conquistar o protagonismo que tem hoje no tratamento de alta complexidade”, falou Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein”.

O hospital tem ainda um programa de Tele-UTI que permite visitas remotas de médicos e intensivistas e a disseminação de conhecimento para vários hospitais pelo país. Em 2019, criou a Rede Einstein de Pacientes Graves, plataforma que leva padrões de qualidade do Einstein às UTIs do sistema público, ao permitir o acesso aos protocolos de cuidados para pacientes de alta complexidade. “A Rede Einstein de Pacientes Graves, estruturada um ano antes da pandemia, permite que todas as unidades hospitalares gerenciadas por nós, públicas ou privadas, mantenham um alinhamento de padrões e governança clínica por meio uma plataforma única, com o compartilhamento de tecnologias, processos e procedimentos médicos. Temos, inclusive, metas conjuntas para todas as unidades. Com isso, podemos atuar praticamente como uma UTI única”, afirmou Klajner.

No seu início, a unidade de terapia intensiva do Morumbi mandava para casa, saudáveis, 35% dos pacientes graves. Hoje, 95% dos pacientes têm alta de sua UTI, e a média de tempo de internação gira em torno de três dias. “A UTI era chamada de corredor da morte.

Fizemos todo um trabalho para quebrar esse tabu e transformar a UTI em corredor da vida”, afirmou Elias Knobel, cardiologista que estruturou e chefiou a UTI por 32 anos.

No Einstein, há mais de 15 anos não existe horário de visita na UTI, e o paciente pode ter a companhia de familiares 24 horas por dia. A formação de equipes multiprofissionais de cuidado intensivo é outro ponto de destaque. Foi a primeira UTI a ter psicólogos, farmacêuticos clínicos e fisioterapeutas dedicados. Em 1999, o Einstein foi o primeiro hospital fora dos EUA a obter a acreditação da Joint Comission International, órgão que atesta a qualidade hospitalar.

UTI do futuro

A UTI do Hospital Israelita Albert Einstein adotou uma série de inovações. Novas tecnologias foram incorporadas assim que lançadas, médicos passaram a se especializar em terapia intensiva, inúmeros protocolos foram criados e equipes multidisciplinares transformaram o cuidado dos pacientes graves.

Mas como será a UTI do futuro? Nos próximos 50 anos, inteligência artificial, big data e telemedicina vão permitir aos médicos atuar antes que problemas aconteçam, personalizar tratamentos e compartilhar conhecimento. Tecnologias como aprendizado de máquina e realidade aumentada devem transformar ainda mais as UTIs.

Essas informações irão alimentar sistemas e algoritmos de inteligência artificial que conseguirão não só dar suporte à tomada de decisão como predizer o futuro.

Na Central de Monitoramento Assistencial Einstein, profissionais observam mais de 150 indicadores extraídos do prontuário eletrônico do paciente. Quando algo sai fora do padrão, um alerta é emitido, e os profissionais à beira do leito na UTI são informados.

Outras inovações já colocadas em prática, como a telemedicina, permitem que médicos especialistas do hospital se conectam diariamente com outras UTIs para definir em conjunto um plano terapêutico e de cuidados para cada paciente.

Na pandemia, a Tele-UTI do Einstein ajudou a salvar vidas de pacientes do SUS em 80 hospitais públicos de todo o país. Além de dois hospitais privados, em São Paulo e Goiânia, o Einstein faz a gestão de três hospitais públicos – o Hospital Municipal Vila Santa Catarina, o Hospital Municipal M’Boi Mirim e, a partir de junho, o Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (HMAP) passa a integrar a rede.

Somados, chegam a 140 leitos de UTI e 102 de semi-intensiva. Mas a telemedicina permite estender a qualidade do Einstein para além desses leitos físicos.

“Em um país com as nossas dimensões, podemos até ter a infraestrutura física de UTI, mas a parte humana não é simples. É preciso dar suporte para os profissionais que estão nas diferentes localidades, e nossas iniciativas digitais, que já existem há mais de 10 anos, são fundamentais para isso”, finaliza Lottenberg.

Esse olhar permanente para o futuro faz parte da história do Einstein, que tem em seu DNA o incentivo à formação profissional e à pesquisa. TJ

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