Diplomatas falam sobre relação Brasil-Israel

Liane Gotlib Zaidler - Especial para a TJ | Joel Rechtman - Editor Executivo da TJ

Gerson M. G. de Freitas, o embaixador do Brasil em Israel

Em grupo de 35 CEOs e empresários brasileiros esteve em Israel participando da missão organizada pela Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria e pelo Banco BTG Pactual.

Um dos pontos altos da programação foi o encontro com o Embaixador do Brasil em Israel, Gerson Menandro Garcia de Freitas, que concedeu esta entrevista com exclusividade para a Tribuna Judaica.

TJ: Como foi receber em Israel o grupo de empresários brasileiros durante a missão da BRIL Chamber com o banco BTG Pactual?
Gerson M. G. de Freitas: Tive a grata satisfação de conversar com os empresários brasileiros desta missão, por ocasião da visita a Israel organizada pela BRIL Chamber e o BTG Pactual para conhecerem o ecossistema empreendedor israelense. A equipe da Embaixada mantém contato frequente e estreita coordenação com a Câmara de Comércio, de forma que essas visitas configuram o coroamento de meticuloso planejamento e estudo de mercado.

A interação com os mais de 30 empresários paulistas foi muito positiva. Abordamos diversos temas, com ênfase no status do relacionamento bilateral, que é muito dinâmico nas áreas de agritech, comercial, industrial, gestão de recursos hídricos, meditech, cooperação acadêmica, defesa, segurança, meio ambiente, ciência e tecnologia, cibernética e espacial, entre outras. Destacamos a intensa agenda cultural, um poderoso fator de – ainda maior – aproximação entre os dois países amigos, em especial no ano em que celebramos o bicentenário da nossa independência.

Concluímos o nosso diálogo com a apresentação de oportunidades de negócios, pesquisa e inovação.

Fiquei muito impressionado com o alto preparo e interesse dos membros da comitiva em exportar para Israel e atrair investimentos israelenses para o Brasil, duas das atividades centrais desempenhadas pela Embaixada. Cumprimento a todos os organizadores da missão a Israel, pela acurada seleção dos interlocutores, instituições e entidades realizada, na expectativa de colhermos ótimos resultados em futuro próximo.

TJ: Como o senhor avalia a atual relação entre Brasil e Israel em termos de negócios?
GMGF: O Brasil é o maior parceiro comercial de Israel na América Latina. A relação tem se fortalecido e ampliado, recentemente, com capacidade de ainda maior expansão. A intensificação das visitas entre os dois governos e o aprofundamento das tratativas para o incremento de projetos conjuntos reflete o aumento do interesse mútuo, tanto na esfera governamental, quanto nos diversos âmbitos das sociedades e segmentos da economia. Ademais, está em vigor, desde 2010, importante acordo de livre comércio entre Israel e os países do Mercosul, o que possibilitou a eliminação de tarifas de milhares de produtos da pauta comercial.

Vislumbro, ainda, grande potencial para parcerias entre empreendedores dos dois países. Israel é um país com alto nível de desenvolvimento humano, fruto da qualidade educacional oferecida à população, da elevada renda per capita e da robustez de sua economia e de seu comércio exterior que, entre outras áreas, abriga o pujante setor de exportação de bens e serviços tecnológicos.

Há grande interesse em Israel por produtos brasileiros. Temos trabalhado, em coordenação com outros atores relevantes, para diversificar a pauta exportadora do Brasil, ainda concentrada em commodities. A abertura de escritório da Apex-Brasil em Jerusalém muito tem contribuído para esses esforços e avanços recentes.

TJ: Qual o comparativo da balança comercial desde que o senhor iniciou suas atividades como Embaixador em Israel?
GMGF: O fluxo comercial entre os dois países tem se intensificado nos últimos anos. Em 2021, mesmo com as restrições impostas pela pandemia, as exportações brasileiras cresceram 39,4%.

Já no corrente ano, os resultados têm sido ainda mais auspiciosos. As estatísticas publicadas recentemente pelo Ministério da Economia apontam ter sido Israel, no primeiro trimestre, o principal destino das exportações brasileiras no Oriente Médio, correspondendo a 21% do total, no montante de USD 712,9 milhões. Este valor supera, em apenas três meses, todo o valor exportado pelo Brasil a Israel em 2021 (USD 597 milhões). O crescimento das exportações no período foi de significativos 547,5%.

As importações brasileiras de Israel também cresceram, com variação de +32%. Adubos e fertilizantes seguem na dianteira, representando 43% das compras.

Até o momento, a corrente de comércio já chegou a USD 1 bilhão, com crescimento de 206%, e inédito superávit brasileiro de USD 425,3 milhões.

TJ: Quais foram os setores que fizeram a balança comercial aumentar?
GMGF: Este resultado, muito acima da média histórica, se deve, em parte, ao aumento nas vendas de petróleo, que chegaram a USD 505 milhões. Outros setores também se destacaram: carne bovina (+64%), soja (+170%) e calçados (+84%). O trigo também passou a figurar como importante item da pauta (USD 15 milhões), possivelmente como fornecedor substituto de cadeias globais de valor, diante do atual cenário econômico e político internacional.

Outra boa notícia é a busca da diversificação da nossa pauta exportadora, com a negociação ou já inclusão de produtos com maior valor agregado, como calçados, cosméticos, móveis e rochas ornamentais, e a abertura para pescados e frango, entre outros mercados.

TJ: Qual mensagem o senhor daria para empresários que pensam em fazer negócios com Israel?
GMGF: O exportador brasileiro terá oportunidade de encontrar relevantes parceiros em Israel. Além do comércio e investimentos entre os dois países, Israel poderá representar interessante opção para agregar valor a produtos por meio de parcerias tecnológicas e acessar terceiros mercados com os quais o país tem acordo de livre comércio.

Recomendo vivamente consultar o Guia Como Exportar – Israel, feito pela Embaixada do Brasil, e o Mapa Estratégico de Oportunidades, elaborado pela Apex-Brasil, ambos disponíveis na Internet, com orientações valiosas para quem pensa em exportar, incrementar parcerias ou atrair investimentos em Israel.

“Quero renovar nosso compromisso com o Ishuv”

Tribuna Judaica: O Brasil vive um momento político delicado, assim como Israel. Quais as diferenças e semelhanças entre os dois?
Rafael Erdreich: Israel e Brasil estão polarizados politicamente, entre a esquerda e a direita. Em Israel, a polarização não é tão ideológica, já que a política do atual governo é muito parecida com a que tivemos no governo de Bibi Netanyahu como primeiro-ministro. As diferenças se dão pelas dinâmicas e pela composição governo atual, que é muito experimental, e mantém em sua base diversos espectros, da esquerda à direita, e pela primeira vez comporta um partido árabe-muçulmano. Isso muda um pouco a política social e econômica, mas não tanto a política externa, a geopolítica ou a política de defesa. No governo de Netanyahu também havia mais influência dos partidos ortodoxos. Sobre o Brasil, não posso analisar, pois não entendo tanto a dinâmica política por aqui.

TJ: A sua representação é responsável por vários Estados. Quais os principais destaques do início de sua gestão e quais os principais desafios?
RE: Eu tenho representação por quatro Estados no Sudeste e Sul do Brasil – São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, e não faço diferença da importância desses Estados. Claro que o maior e mais representativo é São Paulo, mas trabalho igualmente por todos. Estamos agindo em diversas direções: em primeiro lugar, queremos aumentar o intercâmbio entre ambos os países; o comércio entre Brasil e Israel já tem aumentado, mas ainda é muito baixo, com cerca de 1,5 bilhão de dólares anuais e nossa meta é dobrar essa cifra, entre exportações e importações. Outro desafio é fazer mais parcerias políticas, econômicas e culturais, e melhorar a imagem de Israel na sociedade brasileira, que já é boa. Queremos divulgar a verdade e aumentar o conhecimento do cidadão brasileiro sobre o que se passa em Israel. E por último, queremos fortalecer a relação com as comunidades judaicas locais. Temos que renovar nosso compromisso com a comunidade judaica e levar Israel a essas comunidades. Israel é o Estado de todos os judeus do mundo, somos uma família. Por isso, temos a obstinação de reforçar essas relações.

TJ: Na pandemia, israelenses residentes no Brasil e membros do Ishuv precisaram muito de seus serviços consulares. O que tem sido feito para agilizar os trâmites e facilitar a vida dessas pessoas?
RE: Durante a pandemia, Israel ficou muito tempo recluso, com poucos serviços nos consulados e com grande dificuldade para todos, como por exemplo, as pessoas que têm parentes em Israel e queriam visitá-los. O meu primeiro desafio, quando cheguei em agosto do ano passado, foi acompanhar e tentar agilizar a abertura do país para brasileiros, e explicar a quem nos procurava qual era a situação e os protocolos em relação à pandemia. Quando cheguei, já havia, pelo menos aqui em São Paulo e no Sul, uma porcentagem alta de população vacinada e baixa de pessoas contaminadas. Mas não foi fácil. Depois de dois meses de uma luta contínua, abrimos finalmente para a entrada de brasileiros no país. Com tantas fake news, a imagem que os israelenses tinham era que aqui a situação estava pior do que realmente estava, e por isso meu trabalho foi muito difícil. Como o mundo todo, Israel foi pego de surpresa pela pandemia e não tínhamos um guia preparado de como agir em uma situação tão nova e inesperada. TJ

Powered by WP Bannerize

Powered by WP Bannerize

Powered by WP Bannerize

Powered by WP Bannerize