Tribuna Judaica: Conte-nos um pouco sobre a sua formação, trajetória pessoal e carreira diplomática.
Daniel Zohar Zonshine: Nasci em Israel. Meus pais fugiram da Europa e chegaram ao país poucas semanas antes de seu estabelecimento. Cresci em Moshav Avigdor, que fica no Sul, servi na Força Aérea como piloto e entrei para o Ministério das Relações Exteriores em 1990.
Trabalhei nas Embaixadas em Lisboa e Brasília, servi como Cônsul Geral em Mumbai, na Índia e como embaixador em Mianmar. Desde o final de agosto de 2021 nós, minha esposa Liora e eu, estamos aqui no Brasil, deixando em Israel nossos três filhos e dois netos.
Sobre a minha formação, sou bacharel em Estudos da Terra de Israel pela Universidade Bar Ilan e mestre pela Universidade de Haifa e pelo National Defense College em ciência política e defesa. Estou feliz por estar aqui.
TJ: A relação entre Brasil e Israel tem uma longa história, com episódios distintos: Osvaldo Aranha, Azeredo da Silveira, as visitas de Lula e Bolsonaro a Israel e, mais recentemente, a de Bibi Netanyahu ao Brasil. Em que patamar o senhor analisa que estamos no atual momento?
DZZ: As relações foram boas desde o início e ficaram ainda melhores com o atual governo no Brasil. As relações são baseadas na amizade e interesses mútuos. Meu objetivo como embaixador é levá-las ao próximo nível, melhorando o vínculo entre as pessoas, as sociedades e os governos de ambos os países. Há muito trabalho a ser feito, mas conto com a cooperação e parceria com a comunidade judaica do Brasil para que isso aconteça.
Israel tem muito a oferecer ao Brasil em diversas áreas, e vice-versa, e isso deve contribuir para essas relações.
Outra área importante para a cooperação entre a embaixada e a comunidade judaica é o combate ao antissemitismo, racismo e outros fenômenos desse tipo. Vimos episódios recentes e esperamos ver cada dia menos ou nada disso no futuro.
TJ: Na área econômica, qual e a importância da balança comercial e o que é necessário para incrementar o intercâmbio?
DZZ: Identificamos algumas áreas focais nas relações econômicas e, com a colaboração do Consulado Geral em São Paulo e dos dois adidos comerciais do Ministério da Economia, tentaremos promover essas relações.
Vamos nos concentrar em Tecnologias e Gestão da Água, Agricultura (com a ajuda de nosso adido agrícola na embaixada), Defesa e Segurança Cibernética, Educação e Saúde, com forte ênfase em inovações. No momento, a balança comercial está muito do lado de Israel – mais de um bilhão de dólares exportados de Israel para o Brasil e menos da metade do Brasil para Israel, mas acredito que com a cooperação e o incentivo certos podemos dobrar esses números.
Quero ressaltar que a cooperação não se dá apenas no comércio de bens ou serviços, mas também na investigação científica e acadêmica, na transferência de tecnologias e nas iniciativas de caráter social, que, creio, acrescentam valor às relações.
TJ: O ano eleitoral se aproxima no Brasil, e diplomatas e governantes têm rompido a tradição de isenção em relação a suas preferências. Isto é uma tendência em Israel? Qual é a sua opinião?
DZZ: Não estamos tomando partido ou interferindo em eleições em nenhum país, inclusive no Brasil. O que estamos tentando alcançar em nosso trabalho são relações que serão fortes, diversificadas e profundas, que não dependerão totalmente da identidade do governo, mas servirão ao povo de ambos os países, ambas as democracias, no longo prazo.