Tribuna Judaica: Fui diretor da Câmara Brasil Israel nos anos 1980 e você já militava ali. Conte-nos sua trajetória?
Renato Ochman: A Câmara foi o canal que nos aproximou no final dos anos 1980, criando uma amizade que mantemos até hoje. Iniciei naquela época como diretor voluntário, ajudando em questões jurídicas. Tive a oportunidade de conviver e aprender com grandes ícones empresarias e da comunidade, como por exemplo o Sr. Leon Feffer, fundador e idealizador da Câmara. Nas décadas seguintes, atuei como diretor estatutário, depois fui secretário geral, vice-presidente por oito anos, e em 2020 fui eleito presidente.
TJ: Você substitui Jayme Blay, que sucedeu nomes como Laerte Setúbal, Mauro Sales, Abreu Sodré, Maílson da Nobrega, Sylvio e Dora Cunha Bueno. Qual é o maior desafio na sua gestão?
RO: Preciso ressaltar a importância de ter convivido quase que diariamente e aprendido ao longo desses anos com os ex-presidentes da Câmara. Aproveito para incluir também o nome do Mario Amato, que muito me apoiou, e cumprimentar ao Jayme Blay pela competente gestão e agradecer pela confiança em sucedê-lo.
Assumir a presidência da Câmara, mesmo após várias décadas de participação na entidade, está sendo desafiador e complexo. Acredito muito no trabalho em equipe e convidei para compor o nosso “dream team” pessoas que aliam capacidade e sucesso profissional, ao desejo de deixar uma herança nas relações comerciais entre Brasil e Israel.
A nova diretoria optou por fazer algo grande e inovador, de forma a estruturar um legado para as próximas gerações. Formamos um time engajado que lidera projetos específicos nas áreas de high-tech, comunicação, institucional e fund raising, entre outros.
Em menos de um ano, já fizemos mais de 20 eventos on-line com experts e fundadores de startups israelenses e seminários de tecnologia entre Brasil e Israel. Inauguramos diretorias regionais no Mato Grosso, que é o maior polo de agrobusiness do país, e na Amazônia, onde estamos aproximando e fomentando “business” entre diversas empresas.
TJ: Israel vive um momento único nas relações com o Brasil, com visitas de chefes de Estado. Qual é o real impacto nas relações comerciais entre os dois países e como andam os números da balança comercial?
RO: A Câmara é uma entidade apolítica, que tem como foco incrementar os negócios bilaterais entre Brasil e Israel. Quando as relações diplomáticas vão bem, isso ajuda muito, porém também precisamos pensar nos negócios privados e nos empreendedores de ambos os países.
Quando iniciei o trabalho na Câmara, os negócios entre Brasil e Israel eram raros. Nosso país não olhava para Israel como um potencial parceiro. Hoje a situação mudou e o Brasil tornou-se um grande importador de tecnologia e de negócios com Israel.
Neste cenário, a Câmara teve e continua tendo muita relevância. Apenas na última década, organizamos Missões Empresariais que levaram mais de 70 CEOs, presidentes de Conselho e empresários ao país. Os números da balança comercial não refletem exatamente o volume de negócios entre os dois países, nem espelham os investimentos em startups e empresas de tecnologia.
TJ: Neste momento onde Israel dá um grande exemplo na pandemia de como agir, o que de concreto pode ser feito para minimizar a crise aqui, com produtos e serviços israelenses?
RO: Esta pergunta traz uma reflexão muito interessante. Assim como na vida social aprendemos a nos comportar, na vida comercial também se aprende a ter postura. Hoje, quem está fazendo negócios com Israel e assiste a forma como o país vem administrando a crise do novo coronavírus, pode se inspirar com seu alto padrão cultural, com a união de toda sua população, bem como com a obsessão por novas descobertas médicas, cientificas e tecnológicas. É nesse momento que surgem novas oportunidade de negócios e serviços. Momentos difíceis podem trazer excelentes oportunidades, porém elas só acontecem com quem está prestando atenção.