O articulista Mendy Tal escreve sobre o perigoso poder das palavras

Mendy Tal - Especial para a TJ

Em tempos de uma enxurrada de fake news, de ânimos alterados e de extrema polarização política, é fundamental que abordemos o tema de Lashon HaRá. Podemos traduzir livremente Lashon HaRá como maledicência, ou mesmo como fofoca.

O judaísmo sempre deu uma importância enorme ao tema, porque reconhece a forças das palavras. As Escrituras nos falam sobre esta postura que traz graves consequências à vida daqueles que a praticam, da pessoa alvo da maledicência e também dos ouvintes.

Por sua vez, os cabalistas dizem que o Lashon HaRá é um nível de assassinato, porque você pode literalmente matar a outra pessoa só usando a língua. Em outro nível, pode matar a reputação da pessoa, ou matar um relacionamento ou uma carreira.

Tomar parte em conversa maledicente provoca inimizade e afastamento. A calúnia e a injúria podem voltar uma pessoa contra outra, e semear a suspeita onde antes havia amizade e companheirismo.

O Talmud declara que quando os judeus eram unidos e não havia Lashon HaRá entre eles, o povo era triunfante, embora estivesse longe de ser perfeito em outros aspectos. Por outro lado, quando o Lashon HaRá causa a dissensão, todos os outros méritos do povo podem não ser suficientes para contrabalançar a gravidade da maledicência.

Segundo o Talmud, foi a calúnia feita por judeus contra judeus que na verdade levou à destruição do Segundo Templo.

A Cabalá também preconiza que, ao falar mal de alguma pessoa, se cria uma energia negativa e os anjos negativos são transferidos para quem faz Lashon HaRá.

Peso das palavras

Desde a Torá, sabemos do peso que as palavras carregam e que nossas falas podem ser usadas para ferir os outros e, ao fazê-lo, também nos prejudicamos. Quando as pessoas fofocam, elas se machucam. Certamente a pessoa que fofoca é machucada, mas a pessoa que escuta e a pessoa a quem nos referimos na fofoca também são danificadas. Mas nossas palavras também podem ser usadas para o bem, para ajudar a formar pessoas em vez de demonizá-las.

A Bíblia também nos conta que Miriam foi punida com a lepra por falar mal de seu irmão Moisés. Embora não possamos ter esta doença séria, quando fofocamos ou espalhamos rumores, certamente esta ação pode nos tornar feios por dentro.

Há uma história frequentemente contada sobre os perigos das fofocas. Uma versão diz que uma mulher espalhou mentiras sobre um vizinho em sua aldeia. Quando ela quis fazer as pazes, ela se aproximou de um ancião da comunidade, disse a ele como estava arrependida e pergunta o que pode fazer para pedir desculpas. Ele a leva ao topo de uma colina em um dia ventoso com uma fronha cheia de penas. Ele a instrui a abrir a fronha, e as penas voam por toda parte. Ele então pede que ela colete as penas distantes. Ela protesta, dizendo que é impossível rastrear cada pena. Ele responde que também é impossível desfazer os danos causados pelas fofocas, pois cada fofoca contada pega o vento e viaja para longe, assim como as penas.

Podemos entender que, em nossas próprias vidas, como diz novamente a Cabalá, quando tentamos nos conectar de maneira positiva e manifestar ações, ações ou intenções positivas, é o poder da boca – das palavras que falamos – que usamos para manifestar a Luz e ações positivas.

A habilidade de falar nos foi dada pelo Criador para elevar a nossa alma e a das outras pessoas com o propósito de compartilhar o bem, e quando escolhemos nos utilizar de um discurso negativo para diminuir outra pessoa, estamos indo contra nossa própria natureza. Quando queremos revidar uma fala negativa com mais negativismo, estamos alimentando ainda mais a escuridão, mas quando tentamos retribuir com amor e positividade, iremos alimentar a essência de luz da outra pessoa.

Nestes tempos de redes sociais virtuais, parece que nos eximimos de nossa responsabilidade de falar o bem. Entretanto, a força de nossas palavras escritas de forma agressiva e mentirosa também é um exemplo rematado de Lashon HaRá, porque são palavras escritas que identificam nossa má-fé.

Infelizmente, nosso discurso, em tempos de pandemia, parece ter se associado às forças negativas das palavras e nem nos apercebemos do mal que causamos. Mas, temos todos, dentro de nós, a cura para a maledicência. É o amor por Deus, por nossa própria pessoa e pelos outros neste mundo.

Deveríamos, em conjunto, buscar o entendimento, o respeito e a energia positiva para que passemos por estes momentos tumultuados sem a agressão mútua.

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