“Não mais silêncio” exibido na Hebraica

Marcio Pitliuk - Especial para a TJ

“Hoje acordei numa cama gostosa, com lençóis e travesseiros limpinhos. Tomei um banho gostoso num chuveiro quente. Depois, comi o café da manhã com todas as coisas que gosto, pão, geleia, queijos. Peguei o carro e fui para o trabalho, onde me receberam com sorrisos e abraços. Eu sou um homem livre”, diz Andor Stern, o único judeu nascido no Brasil, que foi prisioneiro em Auschwitz, no final do filme Não mais silêncio. Sua fala é um alerta para todos nós, principalmente para as novas gerações, que reclamam de tudo e nunca estão satisfeitas.

Durante o tempo em que foi escravo dos nazistas, Andor passou fome, sede, era privado da higiene, do sono e trabalhava 12 horas por dia, sete dias por semana. Lutou para sobreviver e após a libertação voltou para o Brasil, casou-se, tem filhos e netos.

“Eu podia declamar na rádio uma poesia para o presidente da Polônia, mas não podia dizer meu sobrenome, para não saberem que eu era judia”, recorda Rita Braun, ao descrever o antissemitismo que havia na Polônia antes mesmo da chegada dos alemães.

“Para eu sobreviver na Alemanha, minha mãe precisou me esconder numa igreja” explica Stefan Lippman. “Minha mãe contava que o irmãozinho dela, com apenas 14 anos, foi levado direto para a câmara de gás. Ele sonhava ser médico e os nazistas destruíram o seu sonho”, conta no filme George Legmann, um dos sete bebês que nasceram no campo de Dachau. Era final da guerra, o comandante achou que se ajudasse essas mães a darem a luz, ele seria poupado. Seus crimes eram muito grandes para serem esquecidos. Foi enforcado.

Não mais silêncio

Esses, e outros relatos, estão no filme “Não mais silêncio”, que mostra os horrores do Holocausto pela visão de dez crianças, a idade que os personagens tinham durante a guerra. Durante 70 minutos ouvimos as recordações de Ariella Segre, Marika Gidali, Rita Braun, Joshua Strul, George Legmann, Tomas Venetianer, Stefan Lippman, Nanete Konig, Andor Stern e Daniel Roth.

“A diferença deste filme é que demos voz aos sobreviventes, eles puderam colocar para fora os seus sentimentos guardados há dezenas de anos, eles puderam relatar seus momentos mais dramáticos, contam seus sofrimentos e as dificuldades que passaram até a libertação”, explica Marcio Pitliuk, diretor do filme junto com Luiz Rampazzo.

O filme não se preocupa em explicar, de maneira linear, o que aconteceu com cada um dos dez personagens, para onde foram, como foram e o que ocorreu com seus familiares. Ele explora os sentimentos que cada um deles viveu. É uma espécie de catarse, onde eles soltam as dores reprimidas por tantos anos.

Apesar de cada sobrevivente ter morado em cidades, e até mesmo países diferentes, os relatos se entrelaçam, pois de maneira geral todos passaram pelas mesmas dificuldades e privações, como os guetos, os transportes, a fome, o medo, os esconderijos, a separação dos pais. Foi assim que os alemães organizaram o Holocausto.

Para o Rabino Toive Weitman, diretor do Memorial do Holocausto, “Não mais silêncio é um filme fundamental para as novas gerações, que não terão o privilégio que nós tivemos de ouvir pessoalmente os sobreviventes. Neste filme, eles poderão escutar deles o sofrimento que passaram durante o Holocausto, as humilhações que viveram”.

O filme foi lançado no Clube A Hebraica, com a presença de grande público, que lotou o teatro, dentro das regras atuais de protocolo sanitário, e contou com diversos cônsules e autoridades. Alguns dos sobreviventes que participaram do filme estiveram persentes e foram homenageados.

O filme está em negociação para ser exibido em alguma plataforma e estará disponível para escolas. “Não mais silêncio” foi produzido pelo Memorial do Holocausto, com direção de Marcio Pitliuk e Luiz Rampazzo, curadores do museu, e tem 70 minutos de duração.

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