Tribuna Judaica: Conte-nos um pouco sobre a sua trajetória pessoal e na comunidade judaica?
Jean Gorinchteyn: A minha família veio para o Brasil entre a primeira e a segunda grande guerra. Meus avós paternos vieram da Rússia, os maternos da Polônia, fugindo de todas as adversidades que o pós-guerra trouxe à Europa. Morei até a minha juventude no Bom Retiro e estudei no Renascença até a quarta-série, quando fui para o Colégio Bandeirantes. Conheci a minha esposa, também judia, e hoje tenho quatro filhos. A vivência no Bom Retiro, com a minha família, trouxe uma solidez muito grande para mim com relação à essência do judaísmo. Todos os valores éticos judaicos fazem com que eu sempre busque fazer o melhor, com retidão e lisura, além de ajudarem a manter meu equilíbrio mental e suportar as pressões de ser o secretário da Saúde em plena pandemia.
TJ: Como surgiu o convite para participar do governo João Doria e qual é seu principal desafio nessa gestão?
JG: O convite, que me foi formulado pelo governador João Doria, aconteceu no momento em que o antigo secretário, José Henrique Germann, passava por um problema de saúde. Era um momento crítico da pandemia e eles precisavam alguém que pudesse se comunicar diretamente com a população de uma maneira simples e fácil, que trouxesse calma e ao mesmo tempo esperança em um momento tão difícil. Tudo isso já fazia parte do meu discurso, nas entrevistas que eu concedia como colunista de programas como o Em Ponto, na GloboNews, e em programas de rádio na BandNews FM. Neles eu tinha a oportunidade de elencar a parte técnica, por eu ser médico infectologista, e transmitir para a população as orientações de uma forma muito serena. Era isso que se precisava naquele momento. O desafio foi muito grande e acabei fazendo o meu melhor em todos os sentidos.
TJ: Como a sua formação judaica e a vivência no bairro do Bom Retiro influenciam na sua atuação nesta importante missão?
JG: Alguns dos meus valores pessoais eu devo ao judaísmo aprendido, seja na escola ou nas relações familiares e com os amigos. Entre eles destaco o espírito solidário, o amor ao próximo, a Tzedaká, a generosidade e a atenção, que são coisas que tento manter em prática todos os dias. Isso tem sido a minha base, mesmo agora como homem público.
TJ: Israel tem dado exemplo para o mundo nesta pandemia. O que podemos aprender com este país?
JG: Israel sem dúvida deu muitas lições ao mundo, com suas pesquisas de ponta, colocando a tecnologia à disposição da ciência e da saúde. E o país também foi uma ótima referência de organização e esforço para a aquisição de vacinas, proporcionando uma imunização muito rápida. Recentemente, também foi muito sábia e humilde a forma como Israel recuou e voltou a obrigar o uso de máscara, corrigindo uma estratégia errônea, pois acreditaram que com mais de 96% da população vacinada poderiam se livrar desse adereço que se mostrou eficiente para impedir a recorrência da pandemia. O primeiro-ministro foi muito ético ao reimpor algumas restrições a partir do surgimento da variante delta.
TJ: Envie uma mensagem para o Ishuv paulista nesta véspera de Rosh Hashaná.
JG: O nosso Ano Novo Judaico, assim como o ano novo das mais diferentes religiões e culturas, nos permite momentos de amadurecimento, principalmente agora que estamos saindo da pandemia. Temos que refletir o quanto nós melhoramos e o quanto deveríamos ter melhorado nas nossas ações e nos nossos sentimentos. Não tenho dúvidas que passamos a dar valor a coisas que realmente tem importância, como a liberdade, o abraço, estar com os amigos, poder viajar, ir para a praia, para o campo. Nosso pensamento é de esperança, mas nunca poderemos deixar de olhar para trás e carregar os aprendizados de amor ao próximo e a valorização de cada momento e das pessoas. Quando nos deparamos com tantas mortes, temos a chance para despertar sobre essas reflexões do que realmente importa e deve ser valorizado. TJ
