“Devemos construir pontes e não muros”


Tribuna Judaica: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória pessoal e profissional.
Toive Weitman: Cresci em S. Paulo, estudei na Escola Lubavitch, com 15 anos fui estudar na Yeshivá Tomchei Tmimim, na França. Depois estudei nos Estados Unidos, onde me formei como rabino e vim já casado para o Brasil. Como estudante, visitei pelo programa do Movimento Chabad várias pequenas comunidades, como na Turquia, Honduras, e na Guatemala. Hoje sou professor da Escola Beit Yaacov e dirijo o Memorial do Holocausto em São Paulo.

TJ: Parte importante de suas atividades são os shiurim para jovens. Qual é a importância para você, pessoalmente, desta atividade?
TW: É uma experiência muito gratificante, pois percebo que os jovens, dos 17 aos 30 anos, têm buscado o Judaísmo. Querem fazer encontros, aulas, atividades. Mas eles querem um Judaísmo que fala a língua deles. E é incrível como encontramos na Torá muitos ensinamentos atuais, e quando mostramos isso na linguagem deles, há uma conexão muito forte.

TJ: Quando Moshé desceu do Sinai, encontrou o povo dividido. Hoje em dia, qual seria o conselho que ele daria para a comunidade judaica brasileira?
TW: Está escrito que, antes da entrega da Torá, o povo acampou (singular) em frente ao Monte Sinai. O Rashi, um dos grandes comentaristas da Torá, explica que povo era como uma pessoa só, com um só coração. Sabemos que muitos judeus pensam diferente um dos outros, mas sem dúvida temos mais semelhanças do que diferenças. Acho que a solução é sempre focarmos nas nossas semelhanças e não nas diferenças, porque no fundo somos um povo só, com a mesma essência.

TJ: Como diretor do Memorial do Holocausto, você vê alguma semelhança entre o seu trabalho nesta instituição e Pessach?
TW: Hoje em dia, Pessach é a festa mais celebrada na comunidade judaica (mais do que Yom Kipur). Porque nela celebramos a nossa formação como povo. Sentamos com a família e nos lembramos de um conceito importante: Avadim Ainu (fomos escravos). O povo que é capaz de lembrar o seu passado humilde, jamais se torna um povo egoísta. Pelo contrário, ele também se preocupa com o sofrimento de outros povos. Aí que vejo uma semelhança com o Memorial. Quando pensamos no Holocausto, a maior tragédia da humanidade, não é apenas para lembrar aquela barbárie e honrar os sobreviventes, que são heróis. É para lembrar que algo parecido nunca mais aconteça com nenhum ser humano. Assim como em Pessach, também nos faz olhar para os outros povos com empatia. Hoje
o Memorial atende mais de 30 mil visitantes por ano, da comunidade e da sociedade maior. Acreditamos que a única forma de combatermos o antissemitismo, a intolerância, a xenofobia e o racismo seja através do conhecimento, mostrando a verdade para o maior número de pessoas. Lá os visitantes escutam os sobreviventes, suas dificuldades e como se reergueram aqui. Quando enxergam isso, eles nos respeitam mais. Esse é o nosso trabalho. Construir pontes, não muros.

TJ: Pessoalmente, eu já passei alguns Sedarim com a família Weitman. Você tem alguma lembrança ou alguma curiosidade desta festa, que reúne as famílias judaicas de maneira tão especial?
TW: Há cerca de dez anos, fui enviado para fazer o Pessach no Nepal, em Katmandu, que é o maior do mundo, reunindo cerca de 2 mil pessoas. Isso porque há muitos turistas israelenses ali. Como o israelense não faz o segundo Sêder, o segundo sempre tem 10 % das pessoas do primeiro. Sentado na sinagoga, no segundo Sêder, uma senhora chega para mim e pergunta se sou o rabino Weitman. Achei aquilo inusitado e perguntei como ela me conhecia. No dia anterior, meu irmão, rabino Mendy, estava fazendo um Sêder em Manhattan, e ele contou que o mundo inteiro estava celebrando Pessach, citando que seu irmão (eu, no caso) estava celebrando no Nepal. Um jovem que estava acompanhando o Sêder tinha uma parente no Nepal. Ele deu um jeito de se comunicar com ela e pediu que procurasse o Beit Chabad. Ela então apareceu, me procurou, e participou pela primeira vez na vida dela de um Sêder. Muitas vezes, nos lugares mais distantes, é lá que as pessoas se conectam. Como os israelenses, que moram em lugares com muitas sinagogas, acabam se conectando mais em lugares longínquos.

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