A arte de criticar (parte 2)

Rab. Raphael Shammah - Especial para a TJ

Antes de dar qualquer observação aos seus filhos/alunos, você tem que estar certo que ele sabe que você gosta muito dele e se importa muito com ele!

Não basta ele saber que todo pai gosta de seu filho e que todo professor se importa com seu aluno. Ele tem que sentir este amor, ele tem que ver em ações concretas o quanto estão prontos a sacrificar por ele e se esforçar pelo seu bem. “Confiáveis são as feridas daquele que ama e renegados são os beijos de quem me odeia” (Provérbios, 20,6).

Para você poder fazer uma crítica, mesmo que construtiva e com todas as condições que expomos na primeira parte deste artigo, seu pupilo tem que estar convencido que isto vem de um grande amor por ele.

Vamos agora a dicas práticas:
a) Você deve elogiar seu filho muito mais que criticar. Tenha uma boa palavra para seu aluno mesmo quando ele alcançar pequenas metas. A sua relação com ele deve estar baseada no campo positivo, nas palavras dóceis e incentivos. Isto vai ajudá-lo a aceitar quando você, raramente, lhe fizer uma observação. Aliás, sucesso gera sucesso. Quando ele sentir que suas pequenas conquistas são valorizadas, vai correr atrás de outras conquistas, mesmo se estas exigirem mais esforços.

b) Você deve transmitir muito mais inspiração do que reclamações. Deve falar sobre ideais e comportamentos ideais mais do que reclamar.

Qual deve ser a relação entre críticas e elogios?

Talvez para cada dez elogios, uma crítica é viável, no máximo duas críticas para dez cumprimentos.

Mesmo uma crítica positiva, aquela que não rebaixa o outro, mas somente mostra o que esperamos dele, deve ser limitada! Construir um relacionamento baseado em broncas, reclamações e observações cria um ambiente que provavelmente não vai mudar o íntimo de seu filho/aluno. Talvez vai gerar medo, mas não educar. Às vezes deve-se até fechar os olhos para não acabar criando um ambiente hostil.

c) Aliás, vale a pena dar ao seu filho ou aluno o sentimento que errar é humano. Às vezes você pode até se expor contando seus próprios erros. A mensagem deve ser que o principal é saber reagir aos deslizes. Aproveitar as falhas para corrigir os pontos fracos e avançar. Ir adiante, não ficar remoendo os escorregões que ele fez. Afinal, mesmo os grandes homens não nascem perfeitos. Tiveram suas falhas, suas dificuldades, mas souberam vencê-las e se elevar.

d) Mesmo quando decidimos que algo deve ser dito e que precisamos dizer ao nosso filho/aluno que ele agiu de forma errada e mostrar como ele deve reagir, devemos falar a ele com respeito e consideração.

Você deve ao mesmo tempo dar-lhe o sentimento que ele é importante. E justamente pela importância dele e pela consideração que você tem por ele acha necessário dar uma pincelada em seu comportamento.

O Shl”a (Rav Yeshayahu Horowitz, 1558-1630) interpreta o versículo “Não admoesta o tolo para que não te odeie” (provérbios 9, 8) assim: se você trata aquele que está sendo admoestado como um tolo, certamente suas palavras irão gerar ódio de sua parte. “Admoeste o sábio e ele te amará”, se você considera ao seu filho/ aluno um sábio e conversa com ele como tal, apesar de estar criticando-o , este te amará.

e) Se chamar atenção na hora do deslize vai causar uma “bomba atômica”, às vezes vale a pena dar um tempo. Deixar passar os sentimentos que estão à flor da pele e mais tarde quando os ânimos estão mais calmos chamar para uma conversa tranquila, analisando a situação passada. A finalidade é melhorar o futuro e deve-se procurar o melhor momento para fazer a sua contribuição, mesmo se tiver que morder seus lábios por algum tempo.

Em resumo, nós não dirigimos um exército mas educamos o que nos é mais precioso. Forçar um comportamento no presente não garante que estamos construindo e educando positivamente. Educar necessita sabedoria e um grande amor!

Afinal já disseram nossos sábios:

“Assim como é uma Mitzvá dizer algo que será ouvido, é também uma Mitzvá não dizer algo que não será ouvido (Talmud Yevamot 65:)”. TJ

*Diretor do Or Israel College Yeshivá de Cotia

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